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A Terceira Margem – Parte CCLIII – Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 1ª Parte – XXXIII – Fazenda S. João ‒ Descalvados – III

Publicado em: 06/07/2021 - 4:42
A Terceira Margem – Parte CCLIII – Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 1ª Parte – XXXIII – Fazenda S. João ‒ Descalvados – III

Expedição Centenária Roosevelt-Rondon
1ª Parte – XXXIII

Fazenda S. João ‒ Descalvados – III 

Relatos Pretéritos: Descalvados

Barão de Melgaço (1870)

Descalvado: Pequeno monte, cujo cume é destituído de terra vegetal; termina a cordilheira, que margeia pela esquerda o Alto Paraguai até à Latitude de 16°42’. Coisa de 8 ou 10 quilômetros abaixo, existiu na oposta margem um destacamento, que impropriamente chamou-se também do Descalvado.

Agora há aí o primeiro saladeiro que formou-se na Província [1875]. (RIHGB – XLVII – II, 1884)

 

Rondon (04.01.1914)

Nesta tarde de 04 de janeiro, fundeávamos no porto da Fazenda do Descalvado, atual propriedade do Sr. Farquahr, que a adquiriu do Sindicato Belga “Produits Cibils” há, pouco mais ou menos, dois anos. O seu primeiro proprietário formou-a com o auxílio dos índios Bororos da Campanha, e nos seus campos, de mais de 200 léguas quadradas, existiram cerca de 600 mil rezes, das quais, dizem, algumas vieram tocadas da Fazenda Nacional de Caiçara.

Aliás, arrebanhar gado de propriedade do Governo constitui profissão, não só rendosa, mas sobretudo pacífica, de brasileiros e até de bolivianos, difícil, só era tirar alguns bois de estabelecimentos particulares porque a isso se dava o nome de roubo e quem o praticava era chamado ladrão e como tal tratado

Por morte do opulento proprietário, os seus herdeiros venderam o Descalvado, como coisa de somenos valor, à firma comercial Cibils & Cia., da República Argentina, e essa firma revendeu-o ao já aludido Sindicato, do qual fez parte o Rei Leopoldo.

Os belgas exploraram os rebanhos da enorme fazenda durante 30 anos, matando sem método nem escolha, todas as rezes que vinham no rodeio; ainda assim, não conseguiram extinguir a criação: reduziram-na a menos de 100 mil cabeças. Os novos proprietários projetam continuar a indústria da fabricação do extrato líquido de carne, que era dos belgas; mas, por enquanto, estão repovoando os campos.

Aí, o Sr. Roosevelt teve carinhosa recepção dos seus patrícios, o administrador do estabelecimento e um cowboy do Texas, encarregado de superintender o serviço dos campeiros, quase todos de nacionalidade paraguaia. (RONDON)

 

Pereira da Cunha (04.01.1914)

Antes das 16h00 desse mesmo dia 04, atracávamos ao trapiche de madeira da enorme fazenda “Descalvados, na margem direita do Paraguai, com mais de duzentas léguas quadradas, e sessenta mil cabeças de gado.

Apesar do fundo dessa fazenda ser linha de limite com a Bolívia, pertence ela ao estrangeiro – a “Brazil Land Cattle and Packing Company”, ‒ que, por sua vez, a comprou de uma companhia belga, que aí fabricava extrato de carne.

Esse colosso possuía quinhentas mil cabeças de gado, mas, os Belgas, no afã de fabricar o seu produto, estúpida e criminosamente, abatiam tudo quanto repontava o rodeio, sem olharem sexo nem idade, juntava-se a isto o roubo que, constantemente, praticavam na fronteira da Bolívia, e que, segundo nos informaram o administrador e outras pessoas, chegava a ser de mil cabeças por mês; pois, ainda assim, após trinta anos de domínio belga e manutenção de tal “regímen”, a nova companhia encontrou sessenta mil cabeças, que não serão facilmente dizimadas, pois que, além de não prosseguirem na matança estúpida, mantêm os novos proprietários, segundo ouvimos, uma polícia ativa e numerosa, e capaz de evitar a continuação dos roubos.

Nessa colossal fazenda vimos pilhas de couros de onça, na maioria mortas pelos índios Guatós, mas, outras pilhas de couros seguiam-se às de couros de onça, e eram essas fornecidas pelos cervos, cuja matança bárbara e destruidora vai a mais de mil animais por ano! (CUNHA)

 

Roosevelt (04.01.1914)

Uma tarde paramos na sede ou Quartel General de uma das fazendas longínquas da “Brasil Land an Cattle Company”, do sindicato Farquahar, sob a direção de Murdo Mackenzie – não temos nos Estados Unidos cidadão melhor, nem mais competente criador de gado do que ele.

Naquela fazenda existiam umas 70 mil cabeças de gado. Fomos cordialmente recebidos por Mclean, administrador da Fazenda, e por seu auxiliar Ramsey, um meu velho amigo do Texas. Entre os outros auxiliares, todos igualmente cordiais, havia vários belgas e franceses. Os trabalhadores eram paraguaios e brasileiros e, em pequeno número, índios ‒ um grupo de homens destemidos, sempre armados e sabendo como usar suas armas, porque há frequentes conflitos com ladrões de gado, que vêm através da fronteira boliviana, e a Fazenda tem de se proteger por si mesma. Esses vaqueiros eram do tipo a que já nos habituáramos: homens magros, de pele tisnada, mal-encarados, chapéus quebrados na testa, camisa e calça surradas, aventais de couro franjado e pesadas esporas nos pés descalços. São cavaleiros e laçadores magníficos e não temem homens nem feras. Notei um vaqueiro índio, de pé, na atitude exata de um Shilluk do Nilo Branco, com a sola de um pé apoiada na outra perna, acima do joelho. Aquela região oferece extraordinárias possibilidades para a criação de gado.

Na fazenda, havia curtume, matadouro, seção de enlatamento, capela e edificações de várias espécies e com todos os graus de conforto para as 30 ou 40 famílias que tinham o local como seu Quartel General. A bela casa branca, de dois andares, erguia-se entre limoeiros e flamboyants na beira do Rio. Havia toda sorte de bichos domesticados em torno da casa. O mais interessante era um veadinho malhado que gostava de ser acariciado. Meia dúzia de mutuns de espécies várias passeavam pelas salas; havia também papagaios de diferentes espécies e, logo fora da casa, quatro ou cinco garças, com as asas não aparadas, deixavam que nos aproximássemos até poucos palmos de distância, voando então graciosamente para longe; mas voltavam pouco depois ao mesmo lugar.

Entre elas notavam-se pequenas e grandes garças brancas e também as de cor arroxeada e pérola, com a cabeça em parte preta e o bico multicor, que voam com um rápido voo picado, em vez do usual bater de asas compassado das garças. No depósito, notavam-se dúzias de peles de onças, pumas, gatos bravos, jaguatiricas, e uma pele do grande lobo vermelho de dentes miúdos. Eram todas trazidas pelos vaqueiros e índios amigos, pagando-se-lhes determinado preço por cada uma, pois devastavam o gado. As onças matavam cavalos e vacas adultas, mas não os touros. Os pumas matavam novilhos. Os outros animais vitimavam ocasionalmente algum bezerro novo, mas ordinariamente só atacavam carneiros, leitões e galinhas. Havia um couro de onça preta; o melanismo é muito mais comum entre os jaguares do que entre os pumas; não obstante, Miller vira um puma preto morto por um índio.

 

Autor e Fonte: Hiram Reis e Silva

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