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A Terceira Margem – Parte CCLIX – Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 1ª Parte – XXXIX Descalvados – Cáceres II

Publicado em: 14/07/2021 - 10:35
A Terceira Margem – Parte CCLIX – Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 1ª Parte – XXXIX Descalvados – Cáceres II

Expedição Centenária Roosevelt-Rondon
1ª Parte – XXXIX

Descalvados – Cáceres II

Relatos Pretéritos

05.01.1914

Rondon

Prosseguindo a viagem, chegamos, na tarde do dia 5, à cidade de S. Luiz de Cáceres, cuja população, bem como a oficialidade do 5° Batalhão de Engenharia, prestou as costumadas homenagens ao nosso hospede. (RONDON)

 

Pereira da Cunha

Às 04h00, novo encalhe vem surpreender-nos, desta vez, porém, sem choque violento, mas, por esse mesmo motivo, tendo o navio entrado muito pelo suave declive do banco, só após duas horas de rude e constante trabalho foi possível safá-lo e continuar a viagem para Cáceres, em pleno dia 5. […]

 

Às 17h00 desse dia 5, chegamos a Cáceres, velhíssima marginante do extenso Paraguai e escala forçada da outrora Capital da Província, a velha e abandonada cidade de Mato Grosso. Ao longo de todo o alto barranco em que repousa a velha cidade apinhava-se quase toda a sua população.

 

As girandolas de foguetes, indispensáveis e clássicos nos acontecimentos do nosso interior, subiam anunciando a nossa chegada, e o “Nyoac”, atracando à ladeira de barro que, à guisa de cais e escadaria, dá acesso ao barranco, aí encontrou a oficialidade da guarnição de Cáceres e representantes da Câmara, que vieram trazer as boas-vindas a Roosevelt, não tendo sido esquecida a banda de música, companheira inseparável dos foguetes.

 

Desembarcamos e seguimos através de algumas ruas da vetusta S. Luiz, e, apesar da falta de calçamento e estreiteza das mesmas, da casaria baixa e do pequeno movimento da cidade, logo nos sentimos presos pelo “nacionalismo” que aí se respirava, pelo cunho característico de cidade brasileira do interior, pela lhaneza de sua boa gente. Uma das coisas interessantes que me despertaram a atenção na cidade a que acabávamos de aportar, foram as venezianas, são feitas de sarrafos de madeira, estreitos e cruzados em diagonal, formando pequenos paralelogramos, e quis eu ver nessa insignificância uma reminiscência espanhola, oriunda, por sua vez, da influência mourisca do “moucharabieh.

 

Quem, pelas estreitas vielas, foi ao cais de Bulah, aos mercados, ou enfim, já viu o velho Cairo, não pode deixar de ser tomado por esse sentimento de aproximação entre o artístico “moucharabieh” e as interessantes venezianas da nossa longínqua cidade patrícia, mas, não são apenas as originais persianas que despertam a nossa atenção. […]

 

Acompanhamos Roosevelt até a casa do Tenente Lyra, um dos membros da Expedição que aí a aguardava, e dispersamo-nos pela cidade, uns percorrendo suas ruas, outros comprando mais uma ou outra coisa que lhes faltava para a investida do Sertão, pois estavam no último mercado onde seria possível prover-nos, e essa praça ultrapassou de muito a nossa expectativa, pelos grandes recursos comerciais de que dispõe, apesar do extremo afastamento dos centros comerciais e chamados civilizados.

 

Roosevelt, na célebre caçada de 1° de janeiro, tendo sido diversas vezes obrigado a nadar, teve, em consequência, parado o seu relógio, velho companheiro da guerra de Cuba que ele muito estimava, e, como não houvesse tempo para fazer funcionar de novo tal relógio, estava eu, depois de ter feito alguns passeios, em uma casa de negócio, com Kermit, onde este escolhia um relógio novo para seu ilustre pai, quando recebi um chamado urgente do Coronel Rondon.

 

Rápido em atendê-lo, fui à casa em que se hospedara Roosevelt, e aí encontrando o nosso Coronel, dele recebi uma missão diplomática originada por uma interpretação errônea de um seu telegrama, que o deixava um tanto tolhido junto de Roosevelt.

 

Para satisfazer o justo desejo do nosso hóspede, que, como já dissemos, não estava preparado para solenidades e pompas, Rondon telegrafou para Cáceres pedindo que o não constrangessem com recepções e banquetes, para o que ele não estava preparado, e, tendo sido tal recomendação atendida demasiado ao pé da letra, soube Rondon, já bastante tarde, que não havia jantar algum para Roosevelt… nem para nós.

 

Foi nessas circunstâncias que me chamou o nosso chefe, para que eu manobrasse de modo tal que houvesse jantar para todos a bordo do nosso salvador “Nyoac”, e para que Roosevelt fosse prevenido com bastante diplomacia, afim de evitar qualquer mau efeito. “Le rusé Commandant” saiu-se perfeitamente da sua missão, mas, à sobremesa do nosso mágico jantar, tomando a taça de champanhe e um ar de grande seriedade, ofereci, nos termos vulgares usados nessas ocasiões, aquele jantar a Roosevelt, em nome do Intendente de Cáceres…

 

No meio das risadas que despertou o inesperado oferecimento, cuja malícia sou forçado a confessar, o nosso distinto hóspede, tomando esse mesmo ar de solenidade oficial, entrou a responder-me com a chapa do costume, chapa tão batida que Kermit auxiliava a sua emissão intercalando frases já suas velhas conhecidas. Tiveram assim pleno sucesso o jantar e as pilhérias, e, como estivéssemos em tão boa disposição de ânimo, Roosevelt, que tem o grande mérito da franqueza e não esconde as suas “gaffes”, contou-nos o que lhe sucedera, naquela tarde, relativamente ao disparate de uma sua observação. A banda de música, que havia figurado na nossa recepção, tinha-nos acompanhado e, por algum tempo, tocado em frente à casa de Roosevelt, o mestre de tal banda de música, regendo-a e tocando com desembaraço, era um homem de estatura regular, sólidos músculos, tez fortemente bronzeada, pouco bigode, nenhuma barba, olhos negros e cabelos também negros, escorridos, bem lisos e luzidios. Ora, se bem descrevi o tipo do mestre da banda, todos viram nele um nosso bugre ou um mestiço com forte dose de sangue de índio, e Roosevelt, grande observador, logo notando esse fato, começou a refletir sobre a tão perfeita adaptação, se o homem era bugre, ou sobre a nenhuma influência da sua origem, se fosse mestiço.

 

Justamente curioso com aquele caso observado em larga escala no tão distinto Coronel Rondon, Roosevelt chamou o mestre da banda e, interrogando-o por meio de um intérprete, soube que aquele homem de tez brônzea, olhos negros e cabelos escorridos, era pura e simplesmente italiano. (CUNHA)

 

Relatos Pretéritos

06.01.1914

Pereira da Cunha

No dia seguinte, pela manhã, passeando pelas tran­quilas ruas de Cáceres, avistei um edifício em constru­ção, de grandes proporções e magnífica aparência, e soube, com vivo prazer e não sem algum espanto, que era destinado a uma grande escola pública, que estava sendo edificada sob os moldes paulistas, e que uma missão de professores, também paulistas contratada pelo Estado, estava espalhada por algumas das principais cidades, tendo sido Cáceres contemplada nesse número. Fui bastante feliz por ter ensejo de travar conhecimento com o jovem educador que aí se achava e, com ele visitando as antigas escolas, tive conhecimento do progresso obtido aí e em outras cidades de Mato Grosso. Roosevelt que, como homem inteligente e experimentado estadista, liga uma grande importância ao magno problema da instrução, teve palavras muito elogiosas para com o professor, a quem apresentei e, à página 127 do seu interessante livro, cita com elogio o fato que ali fica exposto e que tanto me satisfez. (CUNHA)

 

 

Autor e Fonte: Hiram Reis e Silva

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