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A Terceira Margem – Parte CCXLIX – Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 1ª Parte – XXIX Corumbá – Boca do Rio Cuiabá III

Publicado em: 30/06/2021 - 4:32
A Terceira Margem – Parte CCXLIX – Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 1ª Parte – XXIX Corumbá – Boca do Rio Cuiabá III

Expedição Centenária Roosevelt-Rondon
1ª Parte – XXIX

Corumbá – Boca do Rio Cuiabá III

25.12.1913

Pereira da Cunha

O dia seguinte, Natal, foi todo de navegação no Rio Paraguai; a monotonia das margens baixas, alagadiças, despovoadas e tristes, aumentava as tristezas do Natal fora de casa, mas, a conversa animada e o bom humor de alguns souberam vencer ou abafar a melancolia dos outros. À tardinha, para o jantar, o “salão” do “Nyoac” estava enfeitado com palmeiras e flores agrestes, e assim, não faltou a esse dia a pompa que era possível dar-lhe naquelas condições.

A “sala de refeições” desse nosso vaporzinho, bastante ampla para que sejam armadas as redes, quando funciona como dormitório, fica a dois palmos d’água, e finos varões de ferro, largamente espaçados, cercam-no sem nenhum outro anteparo; duas grandes lâmpadas a petróleo, penduradas ao centro, intervaladas no sentido de popa à proa, iluminam essa peça ao rés do chão, perdão, ao rés d’água, cuja ausência de anteparos tanto a refresca quanto permite a franca e livre entrada dos mosquitos, mutucas, mariposas, cascudos e toda a espécie de insetos que os pantanais de Mato Grosso têm por bilhões de bilhões, e que, salamandras aladas, ardem pela luz.

Ora, a Roosevelt, sempre meu vizinho à mesa, foi designado um lugar bastante próximo a um desses lampiões, embora mais próximo ainda, bem em frente, tivesse então de ficar este seu modesto vizinho; a cortesia fica bem mesmo quando nos possa trazer algum proveito, e foi assim que não tive dúvidas em aconselhar Roosevelt a tomar outro lugar mais distante do fascinador de insetos. O meu vizinho da esquerda não deve ter ficado muito contente com o conselho que a minha cortesia e boa precisão fizeram o nosso hóspede aceitar, pois que, daí em diante, a ele coube a “melhor” porção dos importunos insetos. Roosevelt e eu ficamos um pouco menos atormentados durante o jantar, mas, em compensação, de quando em vez, olhava para o prejudicado vizinho e para o lampião, e exclamava: “le rusé commandant…

Apesar dos turbilhões de insetos que esvoaçavam em torno dos lampiões, certa noite encontrei o nosso ilustre hóspede, sob uma dessas lâmpadas, muito vermelho, suando por quantos poros tinha, envolvido por uma nuvem de insetos que, sem conta da fidalguia da hospedagem, irreverentemente caiam sobre a cabeça, pescoço, mãos e papéis em que escrevia Roosevelt. Este limitava-se a soprar continuamente o papel em que corria o seu lápis-tinta e, se não fora essa necessidade de desobstrução a sopro, dir-se-ia que aquela avalanche que o envolvia e atormentava não lhe causava o menor transtorno. Ao vê-lo trabalhando assim, não me foi possível deixar de perguntar como podia ele escrever daquela forma; e Roosevelt, interrompendo um momento o seu trabalho, disse-me: “meu amigo eu tenho um contrato; devo dar tantos artigos até tal época, e é preciso cumprir”.

E, como se estivesse escrevendo em sua secretária de Sagamore Hill, continuou, imperturbável, rubro, suando e soprando, a escrever o seu artigo. Roosevelt escreve sempre a lápis-tinta e, intercalando dois “carbonos” entre as folhas do bloco de papel, tem sempre duas cópias, além do original; este ele conserva, remete uma das cópias [do primeiro ponto em que isso é possível], guarda a segunda e remete-a de outro lugar. Com tal sistema, diz ele, um, ao menos, há de salvar-se. Mas, ainda que não tenha artigos para escrever, ou mesmo que os tenha, Roosevelt trabalha sempre porque, enquanto viaja, escreve o livro que tem de publicar, e de modo tal que terminada a viagem está terminado o livro. […]

O nosso hóspede mostrava-se seguro do nosso rápido progresso, e, assim, asseverava ter certeza de que, dentro de cinquenta anos, às margens do Paraguai estariam como estão hoje as do Mississipi; dizia que estava farto de ouvir dizer que não havia energias sob os trópicos.

No entanto, tinha encontrado a cidade do Rio de Janeiro, que sabia reformada em curtíssimo prazo, e que era mais bem Iluminadamais limpa, mais bem calçada e melhor policiada do que Nova YorkParisLondresChicagoou Berlim, só excetuando esta última quanto ao policiamento; que vira a Avenida Beira-Mar, feita pela mão do homem, e que desafia qualquer outro passeio no mundo; que vira o Instituto Oswaldo Cruz e o colossal resultado da campanha contra o mosquito.

Visitara ainda o Instituto Butantã, onde se entusiasmara diante dos trabalhos e resultados obtidos pelo Dr. Vital Brasil sobre o soro antiofídico, e diante o bem cuidado aparelhamento daquele Instituto, único no mundo, apesar da grande Inglaterra possuir as Índias e aí ser a cobra um verdadeiro flagelo; que vira, finalmente, além de outras coisas, o caminho aéreo do Pão de Açúcarconcebido por brasileirosconstruído por operários e engenheiros brasileiroscom capital brasileiroquese fosse em SFrancisco da Califórniatodo o mundo diria: “veja o gênioa audácia dos americanos!

Como suspeitasse poder pairar dúvidas em nossos espíritos sobre a sinceridade do que dizia, Roosevelt, cuja sagacidade é extraordinária, acrescentou: “e isso que lhes estou dizendo não é para ser agradável; já escrevi”. E, de fato, no número da revista americana “The Outlook”, publicada a 20 de dezembro desse ano, os maiores elogios são feitos à nossa capital. (CUNHA)

 

Autor e Fonte: Hiram Reis e Silva

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