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A Terceira Margem – Parte CCXLVII – Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 1ª Parte – XXVII

Publicado em: 28/06/2021 - 4:25
A Terceira Margem – Parte CCXLVII – Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 1ª Parte – XXVII

Expedição Centenária Roosevelt-Rondon
1ª Parte – XXVII

Corumbá – Boca do Rio Cuiabá I

 

O que me fascina é o seu espírito, o seu princípio de amor, a sua violência de amor. Rondon é uma energia de coração. […] Rondon é um apóstolo. Que lhe importaria vencer o deserto, se, com o deserto, não viessem para nós as almas rudes que o dominam? Que importariam a árvore, a cachoeira, a flecha homicida, a febre se, depois de afrontar o ermo, ele não trouxesse para a civilização os extraviados da selva? A medida de sua obra é a felicidade do homem. O velho mundo, hoje, digladia-se num duelo sem tréguas. Sobre tantos horrores paira, promissor de nova era, o heroísmo de Rondon. (Alcides Castilho Maya)

 

12.08.2017: Acordei antes do alvorecer e continuei revisando e diagramando o livro “Descendo o Juruá II”. Ajudei, como sempre, o nosso Mestre Cuca “Bicudo” a arrumar a mesa e, logo depois, tomei calma e solitariamente meu café enquanto os demais expedicionários ainda aninhavam-se nos sonolentos braços de Morfeu. A equipe de bordo agiu com perícia e, às 07h00, partimos do Porto do 17° B Fron em direção ao Posto Limoeiro para abastecimento e realizar algumas compras de última hora. Por volta das 08h30, partimos, finalmente, levando gratas lembranças dos amigos de Corumbá. A bela e moderna cidade, emoldurada pela Serra do Urucum, apresenta em primeiro plano, às margens do Rio Paraguai, os Casarios do Porto um magnífico patrimônio histórico e cultural de Corumbá.

 

Às 09h18, ultrapassou à Boreste do Calypso o Navio-Transporte Fluvial “Almirante Leverger” da Marinha do Brasil. O “Almirante Leverger” tem um comprimento de 44 m, calado de 1,10 m, velocidade cruzeiro de 12 km/h, uma autonomia operacional de 30 dias e pode de operar com um helicóptero. A viagem transcorreu na tranquilidade de sempre com o Pantanal nos presenteando com paisagens exuberantes. Pernoitamos a meio caminho da Boca do Rio Cuiabá.

 

13.08.2017: Por volta das 08h00, embarcamos na Fênix VI, uma das voadeiras, com a finalidade de realizar uma caminhada. Depois de navegarmos, um bom tempo, procurando um local adequado para ancorar, pois a maioria das trilhas estava totalmente alagada, aportamos, por volta das 09h00, na sede da Fazenda Porto Mangueira. Foi uma caminhada em ritmo bastante lento com o objetivo de observar a flora e a fauna circundante.

 

Retornamos, por volta das 12h00, depois de executar um exercício físico razoável, mas sem encontrar nenhum animal ao longo da trilha. Em contrapartida ao retornarmos para o Calypso um grande e curioso jaburu passou voando pela embarcação e alterou sua rota de modo a nos indicar o local em que pretendia pousar. Era um macho adulto e muito vaidoso, pois mudava, a todo o momento, de posição e postura permitindo que tirássemos belas fotos suas. Retornamos ao Calypso satisfeitos com a empreitada. Instalados na nossa sala de estar desfrutamos da temperatura agradável sem que fosse necessário ligar o ar-condicionado. Acampamos na Boca do Cuiabá.

 

A Expedição Centenária não desceu o Rio Paraguai rumo à Fazenda Palmeiras como a Expedição Científica. Vamos reproduzir, então, a experiência dos expedicionários originais de Corumbá até à Fazenda Palmeiras, rio abaixo e depois rumo à Boca do Cuiabá que eles chamam, erroneamente, de S. Lourenço:

 

Relatos Pretéritos

17.12.1913

 

Magalhães

No dia 17, às 07h20, partia o “Nyoac” Rio Paraguai abaixo com destino ao Rio Taquari, em cuja Boca de jusante denominada Riozinho penetramos até o Porto da Fazenda das Palmeiras, atracando no mesmo dia, às 19h00, e aí pernoitando. (MAGALHÃES, 1916)

 

Pereira da Cunha

Às 16h00, deixamos o Paraguai e entramos no Riozinho, Braço do Rio Taquari, transformado hoje em verdadeiro Rio; e como tivesse naufragado a lancha destinada a subir esse Rio até um dos portos da Fazenda das Palmeiras, tentávamos agora subir com o próprio “Nyoac”. Bandos enormes de tuiuiús, garças, colhereiros e outras aves orlavam as margens do pitoresco Rio; campos extensos, ainda alagados da cheia, estendiam-se além; os jacarés pululavam por toda a parte. Dentro em breve o navio transformou-se em corpo de atiradores contra esses animais; apareciam armas de todos os sistemas e calibres, e era uma fuzilaria contínua, ininterrupta, entrecortada de risadas, aplausos, troças e vaias. (CUNHA)

 

Rondon

Mas, na manhã seguinte, tendo-me apresentado ao Sr. Roosevelt, pronto a embarcar quando ele o desejasse, tomamos o “Nyoac” e seguimos para o Taquari, Rio que entra, no Paraguai por vários braços, um dos quais se chama Riozinho. É neste braço que se acha o Porto da Fazenda das Palmeiras, para onde nos dirigimos. Mas, antes de o atingirmos, às 17h30, avistamos, de bordo, um tamanduá-bandeira que, no seu andar desajeitado, de pequenos pulos, vagueava pelo campo. Era este um dos espécimes da nossa fauna que o Sr. Roosevelt desejava obter para as coleções zoológicas do Museu de História Natural de New York. Mandei parar o navio e saltamos para terra; os cachorros já corriam embaraçando a fuga do esquisito quadrúpede; Kermit, o Dr. Soledade e eu completamos o cerco e o Sr. Roosevelt atirou com a sua Springfield, carabina do tipo das usadas no exército norte-americano, muito precisa e de admirável penetração.

 

O animal caiu, e nós, animados pelo feliz início que assim tinham as caçadas do nosso hóspede, felicitamo-lo; ele a todos correspondeu com grande satisfação, aliás muito justificada pela beleza do exemplar que acabava de adquirir, digno, na verdade, de fornecer a pele que há de recomendar aos nova-iorquinos admirados, toda a raça dos tamanduás sul-americanos. (RONDON)

 

Roosevelt

Logo após chegamos a um dos postos avançados da grande estância que estávamos prestes a visitar e atracamos no barranco para o pernoite. Havia ali um embarcadouro, ranchos e currais. Muitos “peões” ou gaúchos tinham vindo ao nosso encontro.

 

Depois que caiu a noite, acenderam fogueiras e, sentados junto a elas, cantaram cantigas dolentes, acompanhadas por violões. As labaredas rubras dançavam ao fundo de suas rudes figuras acocoradas longe do fogo, no ponto de encontro entre a sombra e a claridade, fazia calor. Não havia vento. Havia pernilongos, é claro; outros insetos de toda espécie enxameavam em torno de cada luz; mas o navio era confortável e passamos uma noite agradável. (ROOSEVELT)

 

18.12.1913

 

Roosevelt

Ao nascer do Sol já nos dirigíamos para a “Fazenda” do Sr. Barros. A bagagem seguiu num carro de boisque fez a viagem em 2 dias; meus objetos chegaram à fazenda um dia depois de mim. Montávamos pequenos e fortes cavalos de campo. A distância era de umas 5 léguas. A região toda era de pantanal, variada com manchas de terreno mais alto; embora estes trechos subam apenas um metro ou pouco mais acima dos alagadiços, eram cobertos de matagal denso, na maior parte palmitais, ou então de outras palmeiras. Por espaço de uma légua cavalgamos pelos alagadiços; de vez em quando cruzávamos baixadas lamacentas, onde os cavalinhos forcejavam para não ficarem atolados. Nosso guia, de pele escura, ia vestido de camisa, calças e avental de couro franjado, levando esporas nos pés descalços; usava uma corda como rédea e tinha dois ou três dedos do pé metidos num pequeno estribo de ferro. […] Depois de cinco ou seis horas de viagem através da região pantanosa e de florestas de palmeiras, chegamos à Fazenda que era nosso destino. Na vizinhança havia figueiras gigantescas, isoladas ou em grupos, com densa folhagem verde-escuro. Nas proximidades, brejos recobertos de plantas aquáticas.

 

Campinas alagadas e pastagens meio secas, descampadas ou com manchas de palmares entremeados de árvores dos pântanos, desdobravam-se por todos os quadrantes, por espaço de muitos quilômetros. Existiam cerca de 30 mil cabeças de gado na Fazenda, além das manadas de cavalos e varas de porcos e de uns poucos rebanhos de carneiros e cabras. As edificações da sede da fazenda ficavam num quadrilátero, rodeado por uma cerca baixa de paus em pé. (ROOSEVELT)

 

19.12.1903

 

Rondon

Quando o homem e a onça se defrontam não mais esta se preocupa com a matilha: fixa a atenção no principal inimigo, estudando o meio de subjugá-lo. Agora, é preciso ter calma, pontaria firme e resolução: às pernas não se deve pedir, nesses instantes, mais do que a força para sustentarem o corpo imóvel, sem tremores, que comprometeriam a justeza do tiro; e ainda que pudéssemos merecer o epíteto de velocípedes como o grande herói de Homero, de nada nos valeria correr, porque se não matarmos, seremos mortos.

 

O caçador, no entanto não se apressa a atirar; seria muitíssimo perigoso errar o alvo. Ele procura, pois, a melhor posição e o instante mais oportuno para ferir de morte o animal, logo ao primeiro golpe. Mas é forçoso estar atento: se a fera entra a agitar a cauda, não há tempo a perder: ou uma bala certeira a fulmina, ou ela parte para o caçador, rápida como uma flecha, em espantosos saltos de felino enraivecido, atirando-se sobre a presa.

 

No último salto, a onça, erguida sobre as patas traseiras, está rente à sua vítima subjuga-a pelos ombros, com as garras poderosíssimas, e com os dentes formidáveis esmigalha-lhe o crânio. As caçadas de onça não são, pois, isentas de perigos, para um homem só e armado de carabina. Por isso, em Mato Grosso, os caçadores prudentes se fazem acompanhar do que lá chamam um “azagaieiro”, nome derivado de azagaia, ou lança curtacujo ferro tem na base um travessãode modo que só até ele pode a chouparegularmente comprida, penetrar no corpo do animal.

 

O azagaieiro está ao lado do caçador; mas se, por qualquer motivo, a onça investe o seu dever é passar, rápido e resoluto, para frente, atraindo sobre si a atenção do animal. Com a azagaia em riste, firme, sem procurar atirar golpes, que seriam infalivelmente rebatidos com uma pancada de braço do felino, espera que este, levantando-se sobre as pernas e jogando a parte dianteira do corpo para o amplexo fatal, venha por si mesmo, espetar-se no ferro, que lhe é apresentado. Assim o agressorcego de fúriaalém de feridofica a distância de se não poder utilizar das garras, porque o travessão da lança impede a haste de varar as carnesno ponto atingidodando ao homem a certeza de ter a sua arma livre e desembaraçada para novo assalto. A fera cai; mas, ainda cheia de vigor, volta ao ataque, com redobrado ímpeto; fere-se de novo e de novo tomba, e nesta luta porfia até que o atirador possa encontrar ocasião favorável para fulminá-la com um tiro. Como se vê, a função do azagaieiro não é matar, mas simplesmente proteger o caçador durante o tempo em que este é obrigado a conservar na mão a espingarda como arma inerte e inutilizável.

 

Contudo, por divertimento ou por bravata há homens que só com a azagaia vão procurar onças, obrigam-nas a aceitar o combate e acabam matando-as. Semelhante façanha tem muito de temerária, e nisto com certeza reside o encanto que nela encontram os que a praticam. Verdade é que, mesmo quando cooperam os dois caçadores, ainda se podem dar graves acedentes.

 

Relatarei um, ocorrido há tempos, na região em que o Sr. Roosevelt ia caçar. Certo dia, o criador Cyriaco Rondon notou que, nos campos da sua fazenda, as rezes estavam sendo perseguidas e dizimadas por onça. Mandou, pois, a caçadores procurar o seu rasto, para, seguindo por ele, descobri-la e matá-la. Para tal fim, fazendo-se acompanhar da necessária matilha, saíram dois homens: um caboclo armado de espingarda “pica-pau” e um índio Guaicuru, perito azagaieiro. Com facilidade, os cachorros descobriram os rastos do carnívoro, que logo depois estava acuado no interior de pequeno capão de mato. Tratava-se de uma canguçu que tinha de proteger e defender a sua prole, um casal de oncinhas que se havia refugiado em espessa touceira de gravatá. Os caçadores dirigiram-se para ali e quando procuravam avistá-la, eis que de repente a veem surgir do meio da intrincada vegetação com tal fúria e rapidez, que o Guaicuru não teve tempo de se utilizar da sua arma. Mas, no instante em que ela, levantando-se sobre as patas, ia agarrar o pobre índio pelo ombro, este segurou-lhe os braços possantes e com esforço hercúleo, susteve-a no ar. O animal, enfurecido, debatia-se desesperadamente e, com as garras dos pés, dilacerava as carnes das coxas e das pernas do seu impávido antagonista. O companheiro deste aterrorizado com a vista de tal cena, não se animava a socorrê-lo; de longe ouvia o outro gritar-lhe que nada havia a temer, porque a onça estava segura.

 

Afinal, como a luta se prolongasse, o caboclo acabou recobrando ânimo: aproximou-se e desfechou o tiro da sua espingarda; os grãos de chumbo atingiram a cara e talvez os olhos de fera e ela, com a dor, fez um esforço supremo, conseguindo soltar-se das mãos do índio e fugir para o mato, em cuja espessura desapareceu. O herói desta luta selvagem foi dali transportado a braços para a Fazenda, onde chegou quase morto; mas depois de longo tratamento, conseguiu salvar-se.

 

Agora, podemos todos compreender quais foram as providências adotadas para poupar-nos o desgosto de ter de lamentar algum desastre nas caçadas do Sr. Roosevelt. Feitos todos os aprestos, na madrugada de 19 de dezembro saímos para o campo. A turma compunha-se do Chefe americano, do seu filho Kermit, de mim e de dois azagaieiros; não convinha que ela fosse mais numerosa, porque os grupos grandes só servem para espantar as caças. Levávamos é bem de ver, uma boa matilha, dos melhores onceiros que eu conhecia em Mato Grosso e que reuni expressamente para esse fim, fazendo-os vir de lugares distantes.

 

[…] No entanto, não conseguimos encontrar nesse dia mais do que um tamanduá, do sexo feminino, que foi abatido pelo Sr. Kermit. (RONDON)

 

Autor e Fonte: Hiram Reis e Silva

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