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A Terceira Margem – Parte CLXXXVI – Navegando o Tapajós ‒ Parte IV

Publicado em: 05/04/2021 - 3:05
A Terceira Margem – Parte CLXXXVI – Navegando o Tapajós ‒ Parte IV

Navegando o Tapajós ‒ Parte IV

Relatos Pretéritos – Tapajós

Robert C. Barthold Avé–Lallemant (1859)

 

Essa é a chamada “água preta” do caudaloso Tapajós, em cuja margem direita se ergue Santarém. O Tapajós é o segundo Rio, em tamanho, que corre do Sul para o Amazonas. Nasce também no coração do Brasil. Sua nascente mais distante poderá encontrar-se quase sob 15° de Latitude Sul. Da sua embocadura para cima, correndo quase paralelamente com o Xingu e o Tocantins, é navegável perto de 60 milhas, até Itaituba; então os rápidos e cachoeiras interrompem a navegação de barcos maiores.

É curioso que todos esses três Rios, Tocantins com o Araguaia, Xingu e Tapajós procedam de regiões de igual formação e quase do mesmo grau de Latitude, corram regularmente ao lado um do outro, formem quase na mesma Latitude suas cachoeiras inferiores e deságuem quase na mesma proximidade equatorial no Amazonas e no Grão-Pará, comparação em que naturalmente não entra cálculo matemático exato. Três Rios fluindo para o Sul, Paraguai, Paraná e Uruguai, este último, é verdade, mais sinuoso, oferecem algo semelhante.

 

Antes de se afastar inteiramente da margem esquerda do Amazonas, goza-se, diante da desembocadura do Tapajós, belíssima vista. As águas dos grandes Rios correndo do Nordeste para Sul, e as superfícies de seus afluentes, quando se contemplam, são realmente infindas; em três direções vê-se o horizonte encostar na água – “Mare o no?” desejaríamos exclamar diante dessa perspectiva. O continente parece na verdade um arquipélago. A água do Tapajós é cristalina e perfeitamente limpa, sobretudo comparada com a água turva, pardacenta, do Amazonas. A profundidade, porém, faze-lhe parecer preta. (AVÉ-LALLEMANT)

 

Luiz Agassiz (1865)

Volta da Expedição Enviada ao Tapajós

9 de setembro – Acabamos de passar alguns dias tão calmos que não encontro nenhum incidente para narrar. Trabalhou-se como de costume; todas as coleções feitas desde o Pará foram embaladas e estão prontas para serem enviadas para esse porto. Reuniram-se a nós, de volta de sua excursão ao Tapajós, os nossos companheiros para isso destacados, e trazem desse Rio importantes coleções. Parecem encantados com a viagem que fizeram e declaram que aquele curso d’água em nada cede ao próprio Amazonas em extensão e grandeza. Sobre as suas margens se estendem largas praias arenosas nas quais, quando o vento está forterolam ondas como nas praias do Mar.

Agassiz não se preocupou em colecionar animais da localidade; limitou-se a obter os peixes que se podem pescar nas redondezas; deixou para a volta a exploração do Rio Negro. (AGASSIZ)

Rufino Luiz Tavares (1875)

O Rio Tapajós, cujo nome tomou dos indígenas assim denominados, que habitaram por muito tempo suas margens nas proximidades da Foz, é um dos maiores e dos mais notáveis confluentes do Rio Amazonas. Deságua aos 06°12’50” de Longitude ao Oeste de Belém, Capital da Província do Pará, e aos 02°24’50” de Latitude Sul, na distância de 950 km daquela cidade, pelas voltas do Rio. É formado pelo Rio Juruena, ou antes seu próprio prolongamento. Tem as nas­centes no extenso – “plateau” – de Mato Grosso, seguindo proximamente de Sul para o Norte, percorrendo um leito obstruído em parte por perigosas cachoeiras, todas, com mais ou menos dificuldades, acessíveis em determinada época do ano, com exceção de uma só o – “Salto Augusto”.

 

No ponto onde suas águas se repartem em dois ramos, recebe a denominação por que é conhecido na embocadura, cuja largura regula 1.700 m, tomada da margem direita à Ponta Negra. Ainda não foi explorado convenientemente, pelo menos a torná-lo conhecido cientificamente de Itaituba para cima. O que porém se sabe do curso e direção das suas águas, deve-se tão somente ao acaso da sua descoberta, em 1746, pelo Sargento-Mor João de Souza Azevedo.

 

Descendo o Sumidouro até a sua junção com o Rio Arinos, navegou por este e o Tapajós até Santarém, deste ponto pelo Amazonas abaixo até Belém. Mais de meio século depois, no ano de 1812, outra exploração foi empreendida, mas tomado o Rio Preto como ponto de partida o qual, como o Sumidouro se lança no Arinos. Com 75 dias de viagem águas abaixo alcançou Santarém, com 110, águas acima, o porto extremo, porém partindo de Uxituba. […] Em 1828, foi ao Tapajós uma Comissão ordenada por Nicolau I, sob a direção do Conselheiro Langsdorff, e o resultado que obteve foi por muito tempo ignorado. O ano próximo findo, viajando em minha companhia o geógrafo russo Alexandre Woeikof com quem entretive as mais agradáveis relações, deu-me alguns esclarecimentos a respeito.

 

Asseverou-me que infelizmente a dita Comissão não correspondera à expectativa do seu governo, que seus trabalhos sobre o Tapajós não gozaram da menor importância científica porquanto não passam de uma mera descrição de viagem. Quisera também alguma coisa me referir relativamente à de 1871, determinada pelo governo da Província do Pará, composta dos engenheiros Tocantins e Julião; constando-me porém que não seguiram além da Cachoeira Buburé, pouco acima do tributário Joanchim, 33 milhas ao Sul de Itaituba, limito-me a registrá-la aqui. O Rio Juruena recebe pela sua margem direita o Arinos, que também constitui o Tapajós.

 

Nasce das Serras dos Parecis na Província de Mato Grosso, engrossa suas águas com as de muitos afluentes, dos quais os mais notáveis são, o Rio Preto com a Foz na margem esquerda, o Sumidouro, o dos Peixes, o dos Patos, Tapanhuã-açu e Tapanhuã-mirim, na direita. Em seguida à cachoeira “Todos os Santos” se lança pela margem esquerda ao Rio São Manoel, de curso bastante extenso, regular largura, alimentadas suas águas com as de muitos mananciais de pequena importância e na maior parte desconhecidos. […] Contíguo ao lugar onde está situada Vila Franca, na margem esquerda do Tapajós, deságua em uma Bacia o Rio Arapium, tributário de grande curso com cachoeiras, as cabeceiras para o centro das terras firmes que pela parte do Sul limita o Lago Grande de Vila Franca, cujo desaguadouro acha-se na margem direita do Amazonas, acima da costa de Paricatuba, 56 km de Santarém. Nas vizinhanças do porto desta cidade, nenhum outro Rio existe mais importante, não só pela abundância de riquezas naturais que possui, como também porque está habitado e facilita de alguma forma as comunicações entre o referido Lago e a Vila, através da margem esquerda. Também se comunica o Tapajós com o Rio Amazonas pelos estreitos ou Canais denominados Arapixuna e Igarapé-açu, este accessível a vapores, encurtando assim a viagem geralmente feita pela Ponta Negra.O primeiro dos referidos Canais demora a Este, fica defronte da Foz do Arapium e só dá passagem durante a enchente pelo Furo Cararyacá.

 

É habitado, possui muitos sítios e plantações de cacau e café, o segundo acha-se – NS – com a ponta Salé, na distância de 1.850 metros. Presentemente tem a Boca de comunicação com o Amazonas obstruída com plantas aquáticas, que mui facilmente pode-se remover. Estes Canais pelos quais o Tapajós recebe águas do Amazonas, deram causa a asseverar alguém que aquele tributário se lançava no segundo por três Bocas, o que não passa de um erro palmar em hidrografia.

 

A região encachoeirada do Rio Tapajós compreende uma faixa de mais de 400 km. Estes obstáculos naturais, a partir das nascentes, são conhecidos sob os nomes seguintes: corredeiras “Meia-Carga”, “Pequena Cachoeira do Espinho”; grandes cachoeiras “Rebojo”, “João da Barra” e “São Carlos”; paredão “Salto Augusto”, de todas a mais terrível e a única inacessível […]

 

As águas do Rio Tapajós são escuras, mas tão transparentes que à pequena profundidade permite distinguir perfeitamente os materiais de seu leito, tais como areia grossa, vasa, seixos rolados, pedregulho e cabeças de que está semeado. A correnteza das águas varia segundo o estado do Rio, pois no começo da enchente é que sua velocidade torna-se maior, da Foz até Boim é quase nula, de 2 quilômetros por hora até Aveiros, de 5,5 em Itaituba, no mês de fevereiro. (TAVARES)

 

Henri Anatole Coudreau (1895)

No igarapé do Igapó Açu, fronteira à casa principal de Pedro Pinto, e a curta distância para o interior, é que se ergue a maloca Mundurucu mais Setentrional do Tapajós. Constituem-na umas trinta pessoas, homens, mulheres e crianças, trabalhando com Pedro Pinto. Este famoso Igapó Açu, que dá nome a todo o Distrito, na realidade, não existe! Em toda a faixa onde de ordinário o localizam, não se veem senão alguns pequenos igapós ou charcos, de extensão limitada. Sem dúvida formavam um só e grande charco no tempo em que o nome foi escolhido. Fenômenos como este não são raros nestas bandas. Das Ilhas do Igapó Açu aos rochedos de Cuatacuara, é a região da antiga Missão de Bacabal.

 

Não é intuito meu fazer nestas linhas o histórico desta Missão, hoje completamente extinta, mas de Memória bem viva na Memória local. Permito-me referir, no entanto, que o fundador e diretor dessa obra, Frei Pelino de Castro Valva, conseguiu reunir uns seiscentos índios, na maioria Mundurucu, recrutados ao longo do Tapajós, até as vizinhanças do Chacorão e do Airí. Eram índios já civilizados, que já tinham trabalhado ou trabalhavam com patrões. Não havia ninguém das Campinas, nem para aí viajou o Frade. Sucedeu, infelizmente, que pela maior parte os índios morreram. Quando Frei Pelino deixou a Missão, dos seiscentos silvícolas, sobravam no máximo cinquenta; o resto havia morrido.

 

Frei Pelino foi inquietado por haver sido mais feliz nos seus negócios que na sua obra de caridade. E fizeram um inquérito, que nada apurou. Foi isto vinte anos atrás. Se Frei Pelino voltasse de Roma, onde, parece, soube preparar para si uma doce existência, reveria seu pobre Bacabal tão deserto como no dia em que o abordou para a sua obra cristã. No lugar da Missão um instante florescente, depararia tão só inútil e triste ruína da mata virgem abatida: a melancólica capoeira. Bacabal virou deserto. Contudo, neste ponto como em outros, onde a “organização” malogra, triunfa a iniciativa privada. Apenas pelo esforço individual, o Tapajós povoa-se. Sem o concurso de empresas subvencionadas de colonização e de civilização. Povoa-se, e no futuro se povoará cada vez mais rapidamente. Bastam para tal, a este Rio, seu clima e suas belezas naturais. Onde encontrar algo mais belo que os rochedos de Cuatacuara? Imagine-se uma muralha a pique, uma grande muralha de 100 a 150 m de altura estendendo-se ao longo do Rio por cerca de três quilômetros. Rochedos abruptos que lembram frontões de edifícios, obeliscos, catedrais disformes mas gigantescas; rochedos com aparência de uma ciclópica Fortaleza, e na rocha desnuda, com seções perpendiculares cortando nitidamente as estratificações, formas que parecem pilares meio murados na enorme massa, gigantescos capitéis, janelas! Sempre e sempre a rocha despida, salvo na cúpula da monstruosa obra, onde magros arbustos se estiolam. Aqui e além, ameaças de desmoronamentos sobre as canoas que passam em baixo.

Mais longe, cômoros pelados, com uma outra mancha de hera avermelhada, tentando inutilmente cobrir a nudez triste da pedra. (COUDREAU)

 

Amílcar A. Botelho de Magalhães (1928)

Nota 14

O notável geógrafo Pimenta Bueno, sem uma razão plausível e com evidente menosprezo pelas de ordem antropogeográfica, quando organizou o mapa de Mato Grosso de que foi autor, considerou como Rio Tapajós o trecho desse curso d’água desde sua Foz no grandioso Rio Amazonas, até a confluência dos Rios Juruena e Arinos; desta forma o Tapajós ficava sendo o produto da confluência destes dois Rios e o São Manoel ou das Três Barras, modernamente Rio “Teles Pires”, deveria ser considerado como afluente da margem direita do Tapajós. Esta caprichosa imposição aberrava das tradições guardadas pelos habitantes ribeirinhos, para os quais:

1. o Rio Tapajós era formado pela junção do Juruena e do São Manoel;

2. o trecho do Rio entre a Boca do São Manoel e a do Arinos, era ainda o Rio Juruena.

Rondon, estudando minuciosamente o assunto, entendeu, muito judiciosamente, restabelecer as primitivas inscrições cartográficas, anteriores a Pimenta Bueno, porque o estudo das plantas levantadas pela Comissão Rondon, tanto do Juruena como do Arinos, revelaram claramente que o Arinos devia ser considerado como afluente do Juruena – o que corroborava a hipótese de se continuar a chamar Juruena o trecho do curso d’água compreendido entre as fozes dos Rios Arinos e São Manoel ou “Teles Pires”. […]

Eis como se exprimiu a propósito o General Rondon [Conferências 1915]:

Os geógrafos modernos, porém, aceitaram a lição de Pimenta Bueno, publicada no seu mapa de Mato Grosso, que consiste em fazer o nome “Juruena” morrer na Barra do Arinos, figurando pois, o Tapajós como resultado do concurso das águas que descem reunidas desde essa Foz até o Amazonas. Semelhante modificação, que contraria a tradição histórica constante das crônicas dos dois séculos passados, e as indicações da população ribeirinha, e de todos os navegantes antigos e modernos, não tem a ampará-la nenhuma razão de ordem superior a esses elementos.

No ponto em que o Juruena vai receber o Arinos, verificou o Capitão Pinheiro [oficial da Comissão Rondon] ser a sua descarga de 1975 metros cúbicos, e ter o seu leito a largura de 1.080 metros. A medição não deu para a descarga do Arinos mais do que 1.283 metros cúbicos, e para a largura, 734 metros.

Comparando-se estes elementos, vê-se que não há razão para os dois Rios serem considerados equivalentes; o poder de um, não se apresenta em condições de ser neutralizado pelo do outro, de modo a dar lugar ao aparecimento de nova entidade geográfica, exigindo designação também nova. A direção que o “Juruena” trazia, continua-se daí para baixo; o seu volume é bastante superior ao do Arinos; portanto, é perfeitamente cabível considerar-se este como tributário daquele cujo nome deve ser conservado e prolongado, pelo menos até a Foz do “Teles Pires”. O Tapajós forma-se, pois, da reunião das águas do antigo São Manoel [hoje Teles Pires], com as do Juruena; o 1° contribui, em cada segundo, para esta formação, com o volume de 1.747 metros cúbicos e o outro com o de 2.480 metros cúbicos. (MAGALHÃES)

Autor e fonte: Hiram Reis e Silva

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