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A Terceira Margem – Parte CXXXVIII – Foz do Breu, AC/ Manaus, AM ‒ Parte XIV Conflito Inevitável I

Publicado em: 26/01/2021 - 9:42
A Terceira Margem – Parte CXXXVIII – Foz do Breu, AC/ Manaus, AM ‒ Parte XIV Conflito Inevitável I

Foz do Breu, AC/ Manaus, AM ‒ Parte XIV

Conflito Inevitável I

Euclides da Cunha, na sua obra “Contrastes e Confrontos”, denuncia as incursões peruanas que buscavam avidamente as ricas plagas onde a hevea abundava e caracteriza as hordas peruanas como uma “aglomeração irrequieta em que há todas as raças e não há um povo” que invade a floresta tumultuariamente dedicando-se mais à pilhagem do que a um trabalho produtivo.

Uma massa humana que se liberta e rompe os Bastiões da Cordilheira em busca da terra exuberante e da hileia magnífica já ocupada, sobretudo, pelos arrojados irmãos nordestinos.

A salvação está no vingar e transpor a Cordilheira. Ali ao menos há a sugestão dominadora da civilização surpreendente dos Incas: a estrada de duas mil milhas distendida de Quito às extremas do Chile, lastrada pelas neves eternas, contorneando encostas abruptas em releixos ([1]) de rocha viva, alcandorada ([2]) em pontes pênseis sobre abismos, e estirando nas planuras as calçadas eternas de silhares ([3]) unidos com cimento betuminoso; e os velhíssimos baluartes pré-incaicos feitos de montanhas inteiras arremessando-se nas alturas em sucessivos patamares ameados; e a ruinaria dos santuários do Sol com os seus aparelhos ciclópicos de blocos poligonais de pórfiro ([4]) brunido ([5]); e os longos aquedutos do monte Siva, em cujos canais subterrâneos, perfurando as serras, se espelham esforços de uma engenharia titânica…

Depois, descidas as vertentes Orientais da primeira cadeia dos Andes, transposta a “montaña” e a segunda Cordilheira – a terra exuberante é desmedida, prefigurando nas grandes matas a mesma hileia amazonense.

Nesta região, tão outra, está – pela implantação do trabalhador e pelo equilíbrio da existência agrícola – a redenção daquelas gentes que possuem os melhores fatores para um elevado tirocínio histórico.

Mas, ao mesmo passo que lhes despontam estas esperanças, extingue-lhas a mesma Cordilheira com o seu largo tumultuar de píncaros e de pendores impraticáveis num talude vivo de muralha, que lhes trancam quase por completo as comunicações com o litoral.

De fato, o Pacífico, ainda que se rasgue o Canal de Nicarágua, parece que pouco influirá no progresso do Peru. O seu verdadeiro Mar é o Atlântico; a sua saída obrigatória, o Purus. Sabem-no há muito os seus melhores estadistas: a expansão para o Levante traduz-se-lhes como um dever elementar de luta pela vida.Revelam-no todos os insucessos de numerosas tentativas buscando libertá-lo das anomalias físicas que o deprimem. Revelou-as, desde 1879, C. Wiener:

Os peruanos aquilatam bem a importância enorme que teriam as estradas, ligando os afluentes navegáveis do Amazonas e do Ucaiali às cidades do litoral; fizeram todos os esforços para executá-las porque lhas impõem a lógica e o interesse; mas parece que a sua força de vontade é menor que a constituição física dos autóctones.

De feito, contemplando-se diante de um mapa a faixa costeira entre Pachacamas e Tumbez, nota-se um como diagrama daquelas tentativas desesperadas e perdidas.

Foi a princípio, no Extremo Norte, a linha férrea de Paita a Piura, procurando os tributários Setentrionais do Solimões; depois, próxima e ao Sul, uma outra, de Lambayaque a Ferenafe: ambas estacionaram, trilhos imersos nos areais da costa. A terceira, lançada de Pascamayo à estação terminus de Cajamarca, e a quarta partindo de Salavery, pouco ao Sul de Trujillo – buscavam as linhas de derivação do Ucaiali: embateram ambas de encontro às fílades espessas e aos doleritos e quartzos duríssimos das Cordilheiras.

A quinta, a admirável estrada de Oroya, dominou parte da serrania, mas ficou bem longe do seu objetivo essencial no transmontar as últimas cordas de serras, varar pelas planícies do Sacramento e alcançar o Purus.

Esta é expressiva: mostra como o traçado do grande tributário do Amazonas, em cujas margens contendem agora os flibusteiros, norteia de há muito a administração daquela República. Por outro lado, desde 1859, com Faustino Maldonado e dez anos depois com o Coronel Latorre, sucessivas expedições se lançam para o Oriente impelidas por alguns abnegados caídos todos naqueles lugares remotos, numa extraordinária intuição dos interesses reais do seu país.

Estes antecedentes delatam nas perturbações que lavram em toda aquela zona um significado bem diverso do que lhe podem dar algumas correrias de seringueiros.

A guerra iminente tem uma feição gravíssima. Se contra o Paraguai, num Teatro de Operações, mais próximo e acessível, aliados às repúblicas platinas, levamos cinco anos para destruir os caprichos de um homem – certo não se podem individuar ([6]) e prever os sacrifícios que nos imporá a luta com a expansão vigorosa de um povo. (CUNHA, 1975)

A Conquista do Alto-Purus e Alto-Juruá

Segundo João Craveiro Costa em “A Conquista Ocidental do Deserto Ocidental”:

Já em 1870, os brasileiros, no Juruá, se haviam aventurado, pouco a pouco, avançando bravamente na direção das cabeceiras do grande curso fluvial, à cata das heveas, chegando às margens do Amônea e do Tejo, e, anos depois, em 1891, levaram as explorações ao Rio Breu, por lá, muitos deles, se fixando.

Por toda parte, no Alto-Juruá, não havia uma só propriedade peruana. Tudo aquilo era tido pela população como terra brasileira, pertencente ao Município amazonense de São Felipe.

No Purus, a ocupação das margens do grande Rio, na sua parte mais alta, em demanda das nascentes, data de 1892, a que remontam os primeiros estabelecimentos do Rio Chandless, daí subindo sempre nos anos posteriores.

O Rio Béo, pouco acima do Breu, marcava, em 1891, o Limite Meridional da ocupação efetiva brasileira no Juruá, que nesse ano alguns compatriotas nossos, dirigidos por João Dourado e Balduino de Oliveira, exploraram até à Boca do Rio que chamavam Dourado e é o mesmo a que os peruanos, posteriormente, deram o nome de Uacapista ou Vacapista, mudando o primitivo nome para outro afluente próximo.

O Santa Rosa, em Curinahá, ficara sendo, desde 1898, o limite da ocupação brasileira no Purus, já em 1861 explorado pelo nosso intrépido sertanejo Manoel Urbano da Encarnação, até perto de Curanja, e em 1867, com o auxílio do Governo brasileiro, por William Chandless, em companhia do mesmo Manoel Urbano, até pouco além da confluência do Cavaljane, isto é, até as vizinhanças da nascente principal.

Anteriormente a 1896, esses territórios estavam livres de peruanos. Nada por ali havia que atestasse a sua passagem e fosse um padrão de posse da nação peruana sobre aquelas águas e aquelas terras. Somente em 1896 começaram aparecer peruanos, devastando as florestas em busca do caucho.

Eram negociantes endinheirados, à frente de numerosas hordas de “cholas” ([7]) broncos, que percorriam os Rios navegáveis mais facilmente, introduzindo mercadorias contrabandeadas e espalhando soles ([8]) e libras.

Demoravam-se em alguns pontos, vivendo à larga, o tempo em que os caucheiros, destruindo as castiloas ([9]) no seio da floresta, faziam o caucho, que os negociantes recebiam e logo abalavam ([10]).

Os vestígios que deixavam ficavam na mata bruta, na destruição das árvores da borracha e nos barracões senhoriais, ou nas barracas humildes, de paxiúba e caranaí, nos soles de prata que os seringueiros, em permutas comerciais, recebiam e entesouravam no mealheiro. Aquilo era do Brasil. (COSTA)

Fonte: www.gentedeopiniao.com.br/colunista/hiram-reis-e-silva/a-terceira-margem-parte-cxxxviii-foz-do-breu-ac-manaus-am-parte-xiv-conflito-inevitavel-i

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