No final da tarde de 1945 um oficial do Exército, do Corpo de Engenharia, estava acampado num bivaque no KM 45 da estrada que desde 1937 vinha sendo aberta, saindo de Porto Velho em direção a Vilhena, seguindo a linha aberta entre 1907 e 1909 por outro oficial do Exército, Candido Rondon que veio de Cuiabá instalando a linha telegráfica até Porto Velho.
O tenente-engenheiro Fernando, da 2ª Companhia Rodoviária Independente (EB), chefiava o grupo. Era domingo, 29 de julho, e os soldados, sargentos e o oficial se revezavam, aproveitando o descanso, para disputar partidas de dominó, quando passou uma inambu, e o oficial pegou uma arma e disse que iria matar o pássaro para jantar. Logo dois outros graduados anunciaram que o acompanhariam e o trio entrou na selva.
Este ano completam 81 anos que o ex-atleta de remo do Flamengo e jogador de basquete do Botafogo, tenente Fernando Oliveira, desapareceu na selva. Num caso que contou com erros de todos os lados de investigação, a única verdade verdadeira do caso é uma só: ele sumiu.
Mas há versões para todos os gostos, algumas inverossímeis, da mesma forma que aconteceram casos de explícitas ameaças durante a pesquisa, mas isso ficou por conta dos riscos da profissão. Mas há uma questão que precisa ser analisada: o festival de desculpas e de versões pode ter tido uma finalidade apenas, a de não deixar descobrir a verdade.
Segundo Walter Bártolo, cabo motorista da 2ª Rodoviária Independente, em entrevista concedida em sua casa a mim, ao jornalista Adaídes – Dadá – dos Santos, ao historiador Francisco Matias, os dois subalternos que saíram com o tenente Fernando para caçar o inambu voltaram, uns 20 minutos depois, dizendo que o oficial sumira, um deles teria retirado sua arma do coldre mostrando a todos que não disparara um só tiro, mas isso, na ocasião, não chamou a atenção de Bártolo.
E como já era noite, o acampamento todo foi dormir, mas, antes, por telégrafo, o governador, que era oficial do Exército, Ênio Pinheiro, teria sido avisado do sumiço do oficial, mas só dois depois é que mobilizou um grupo de soldados e mateiros para tentar resgatar o desaparecido.
Bártolo continuou, contando que mal começou o dia seguinte, uma segunda-feira, os soldados saíram com os mateiros que os ajudavam a penetrar na selva, mas depois de muitas horas retornaram, sem encontrar qualquer sinal do oficial.
Em 1998 eu havia escrito uns comentários sobre o desaparecimento do tenente Fernando, e fui procurado por uma pessoa moradora de Ariquemes que contou ter sabido através de um cidadão já bem idoso, morador daquela cidade que havia sinais de que o oficial fora assassinado.
A história, ou estória, que ele teria ouvido do idoso é que bem cedo na madrugada do dia seguinte ao sumiço, o cidadão, um dos mateiros, sentira uma forte diarreia e fora “desovar” no mato, quando observara duas pessoas carregando o que lhe pareceu ser um saco grande e jogado no pedral do igarapé próximo, mas que não contara a ninguém.
Dois dias depois eu estava em Ariquemes, e cheguei a ir à casa do idoso, segundo a indicação que me havia sido dada, na entrada do setor 9, mas vizinhos disseram que a família se mudara, no dia anterior, para um sítio em Buritis. Quando perguntei se o idoso fora com a família uma mulher respondeu.
“Seu Marçal foi na primeira mudança e o resto no início da noite”. No local ninguém soube informar qualquer coisa sobre o que o idoso dissera ter visto, apenas que ele era muito calado. Estive em Buritis duas vezes, mas não consegui encontrar a família.
O escritor Francisco Matias, falecido em fevereiro passado, disse que um dia foi procurado por um mulher residente em Humaitá (AM), a 200 quilômetros de Porto Velho. Na conversa com Matias ela se identificou como “neta do tenente Fernando”, e depois desapareceu. Programamos várias vezes ir até a “terra da mangaba” e acabamos nunca indo.
Semana que vem a 6ª parte da série.
Muitas versões e só uma verdade: o oficial desapareceu
