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A Terceira Margem – Parte CCLI – Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 1ª Parte – XXXI

Publicado em: 02/07/2021 - 9:12
A Terceira Margem – Parte CCLI – Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 1ª Parte – XXXI

Expedição Centenária Roosevelt-Rondon
1ª Parte – XXXI
 

Fazenda S. João ‒ Descalvados – I

 

O meu intuito não foi apenas o de dar uma demonstração de afeto ao General Rondon, de quem me honro de ser amigo. Quis chamar a atenção do grande público francês para a importância da sua obra, quer sob o ponto de vista brasileiro, quer sob o que diz respeita ao conhecimento científico do Universo. Ao mesmo tempo, transmiti à Sociedade Geográfica de França o relatório completo das diversas obras por ele publicadas, com documentos complementares que permitirão apreciar a extensão dos serviços que prestou à causa geral da Humanidade.

(General Maurice Gustave Gamelin)

 

17.08.2017: Partimos, às 05h30, de Porto Jofre, rumo à Foz do Rio Cuiabá. A viagem transcorreu sem grandes alterações a não ser um ligeiro encalhe em um banco de areia facilmente transposto pela tripulação.

Acampamos na Boca do Cuiabá, por volta das 18h00, (17°52’27,5” S / 57°28’51” O) tendo como pano de fundo a majestosa Serra do Amolar.

Única pelo seu tamanho porque está no interior do continente e pela diversidade de domínios da natureza.
(Aziz Ab’Saber)

A Serra do Amolar, além de moldar o Rio Paraguai a seu bel prazer, bloqueia, sufoca a enorme massa líquida da “planície inundável, dando origem às Baías do Burro e Infinita e a três colossais Lagoas Mandioré, Gaíva e Lagoa Uberaba.

É difícil descrever o que sentimos ao percorrer estes fluídos caminhos, este imenso mosaico aquático que se tinge, que se metamorfoseia a cada dia como se o Patrão Maior do Universo estivesse a ensinar jovens querubins a aperfeiçoar a arte da aquarela.

 

Pinçando uma das Facetas Aprazíveis do Pantanal

(Ramão Garcia)

O Pantanal é a própria poesia do grande Universo da perplexidade, onde o singular surge e o inalterável acontece. É como se a garça cantasse a delirante sinfonia do bando. Quando elas se aconchegam pantaneiramente e o pantaneiro se extasia diante do brilho da pintura especial do quadro de grandeza e todo enlevo com que a natureza presenteia o colibri, no delírio invulgar de sua estática posição junto às flores nos jardins. É como se o cisne fizesse ouvi-lo na corte, empenhado com sua bela fêmea, no emoldurado postal no passeio do Lago. No garboso desfile com a amada, um grande elo das próprias origens, numa demonstração viva e cristalina da nobreza. A arrogância lhe dá ares incontestes de imperialismo. Natural! Inclinado mais nesse namoro para ver-se cortejado, do que tentar fazê-lo, esse rolar de amores, aguardando nessa postura real a linda jovem acompanhante a conquistá-lo.

É a nossa dedução da divina tela, no balé dos cisnes nas águas dos Lagos ou das garças no pantanal, ou ainda do colibri, na horizontal, beijando as flores, em instantes indescritíveis, que, pacificamente, é alto-relevo. Como aprimorá-lo? Como aprimorá-lo?

Para mim e o pantaneiro, é a poesia, patente na nudez cristalina desses inadiáveis instantes, aos olhos da alma e das frases que se coadunam, pela fantasia natural da inspiração, retratando a sensibilidade e a harmonia na condução de uma aquarela, na pintura desse cenário, que a natureza nos deu e orquestração sinfônica que surge nesse inusitado estado, como que adorno primoroso para o quadro que tentamos pintar, ou, ainda, que seja a própria moldura. Mas o quadro, tentamos proclamá-lo – mas o quadro, tentamos proclamá-lo. 

Durante a viagem o Dr. Marc Meyers comentou que Esther de Viveiros, no livro “Rondon Conta sua Vida”, afirmara que a Expedição, da Foz do Cuiabá, teria descido o Rio Paraguai até Corumbá e, depois, trocado de embarcação rumo à S. Luiz de Cáceres.

Como estava envolvido no planejamento para a “Descida do Rio Acre”, em setembro, eu não tivera tempo de me preparar adequadamente para esta etapa da Expedição Centenária, consultando os relatos pretéritos dos participantes da Expedição Científica, e prometi ao amigo que me debruçaria sobre o problema tão logo concluísse minhas missões ‒ o que só aconteceria no mês de novembro. Relata Esther de Viveiros:

Atingimos no dia seguinte a confluência do São Lourenço com o Paraguai, retomando o rumo que fora abandonado pela visita às duas fazendas. […] Um dia mais e chegávamos a Corumbá Seguimosentãoem um dos pequenos vapores que faziam as linhas CorumbáSão Luís de Cáceres e CorumbáCuiabá. (VIVEIROS)

Os capítulos denominados “Expedição Científica Roosevelt-Rondon – A, B e C” do livro de Viveiros foram baseados, também, no original, em inglês, “Through the Brazilian Wilderness” de Theodore Roosevelt, que foi editado pela primeira vez em dezembro de 1914. Parece que o equivocado parágrafo em que a autora advoga que a Expedição Científica da Foz do Cuiabá retornou à Corumbá levou em conta apenas um parágrafo, fora de contexto, da obra de Roosevelt sem que a autora tivesse a preocupação de checar sua afirmação com o relato de outros expedicionários. Vejamos o que dizem eles:

 

02.01.1914

Roosevelt

No dia imediato descemos o São Lourenço até sua junção com o Paraguai e mais uma vez começamos a subir este último. […]

Cinco parágrafos adiante, Roosevelt faz um comentário a respeito da dificuldades de se navegar neste trecho devido ao calado das embarcações:

A confluência do S. Lourenço e do Paraguai fica a um dia de viagem acima de Corumbá, de onde parte um serviço regular com vapores de pequeno calado para Cuiabáacima do primeiro entroncamento, e para São Luiz de Cáceres, acima da segunda bifurcação. Os vapores não têm grande força e a viagem para cada uma dessas pequenas cidades dura uma semana. Há outras ramificações navegáveis. Acima de Cuiabá e Cáceres, as lanchas prosseguem rio acima em vários dias de viagem, exceto na estiagem. (ROOSEVELT)

Não apenas Theodore Roosevelt, foi muito claro que a Expedição subiu o Paraguai, a partir da Foz do Cuiabá, mas, também, Rondon, Magalhães e o Comandante Pereira da Cunha:

 

Rondon

Depois da trabalhosa e improfícua jornada de 1° de janeiro, descemos o S. Lourenço e entramos de novo no Rio Paraguai tomando o rumo de S. Luiz de Cácereságuas acima. (RONDON)

 

Magalhães

Efetuadas estas, regressou o “Nyoac” a 02 de janeiro de 1914, descendo o Rio S. Lourenço passando a subir o Rio Paraguai, às 19h15, em demanda de S. Luís de Cáceres, aonde chegamos às 17h30 do dia 05 do mesmo mês. (MAGALHÃES, 1916)

 

Cunha

Descemos com o “Nyoac” até um bom pouso, e, ao clarear do dia seguinte, começamos a descer o Rio, desta vez com intenção de retornarmos ao Rio Paraguai, pelo qual deveríamos subir ainda muito. Com duas horas de viagem encontramos o Cuiabá, em cuja Foz nos despedimos dos companheiros que, seguindo na lancha, deveriam voltar à Fazenda S. João; algum tempo depois, atracávamos em S. José Velho, donde, depois de alguma demora, largamos águas abaixo até que, depois de navegarmos todo o dia, entramosàs 19h00no caudaloso Paraguai. (CUNHA)

 

18 a 20.08.2017: A navegação diuturna foi um desafio para nossos três piloteiros que se revezavam na condução do “Calypso” por aquele intrincado dédalo fluvial. Infelizmente a navegação noturna privou-nos de poder admirar e documentar grande parte das paisagens únicas daquele colossal paraíso das águas e berço de uma das mais ricas faunas do planeta, tanto em variedade como em quantidade. Na madrugada de 20.08.2017, passamos por Descalvados e, embarcados na “Fênix VI”, O Dr. Marc, eu e os Coronéis Francisco e Angonese fomos visitar suas instalações. Ao percorrermos as instalações históricas sentimos uma compulsão quase incontrolável de adentrar nas históricas instalações, onde tinham pernoitado há cem anos o Ex-presidente Roosevelt e o então Coronel Rondon, mas não tínhamos autorização e isto caracterizaria invasão de propriedade privada.

 

Minha educação familiar não me permitiria tal atitude. A formação recebida na caserna apenas reforçava aquilo que aprendera de meus pais, como dizia o então Capitão Wantuil Ferreira de Camargo, comandante da 2ª Companhia do Curso Básico da Academia Militar das Agulhas Negras – “Aqui não corrigimos Defeitos, apenas aprimoramos Virtudes”.

 

Aqueles que tiveram o privilégio de dar os primeiros passos no caminho da honra e do dever com seus progenitores sabem do que estou falando. Sou do tempo em que a palavra de um Homem valia mais do que qualquer documento oficial e que um compromisso assumido era honrado a qualquer custo. Devemos cumprir aquilo que determina o respeito ao nosso próximo em qualquer circunstância, principalmente quando não estamos sendo vigiados ou observados. Só adentramos às Centenárias instalações depois que o caseiro Jéferson acordou e nos acompanhou na visita. Vamos dedicar o próximo capítulo somente aos Descalvados e por isso mesmo me abstenho de me alongar mais sobre o tema.

 

Autor e Fonte: Hiram Reis e Silva

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