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A Terceira Margem – Parte CCLXV – Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 2ª Parte – VI Cáceres – Ilha da Amizade III

Publicado em: 22/07/2021 - 11:00
A Terceira Margem – Parte CCLXV – Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 2ª Parte – VI Cáceres – Ilha da Amizade III

Expedição Centenária Roosevelt-Rondon
2ª Parte – VI

Cáceres – Ilha da Amizade III

Relatos Pretéritos – Rio Tenente Lyra ou Sepotuba

 

Rondon

Deixando Cáceres (06.01.1914), deixamos também o “Nyoac” ‒ não poderia ele ir além. Começamos a subir o Sepotuba [Tapir], explorado cientificamente em 1908. Rio claro, descendo do planalto para as florestas das terras baixas, só era navegável no tempo das águas. Subimos até Porto Campo, onde pousamos a 07.01.1914. (VIVEIROS)

Pereira da Cunha

CAPITULO VI

06.01.1914: Cáceres deveria ser o termo da minha viagem e aí era mister deixar os bons companheiros que, tomando uma pequena lancha, tinham que subir ainda o Paraguai, e tomar o Sepotuba, quis, porém, a boa-sorte que tão cedo não fosse privado daquela companhia, e que conhecesse maior trecho navegável do Rio Paraguai e ainda o Sepotuba. De fato, não estando no porto a lancha para conduzir a Expedição, resolveuse que o “Nyoac” subisse mais o Paraguai e penetrasse no Sepotubaaté Porto do Campoonde Roosevelt aguardaria a lanchacaçando antas e porcos. 

 

Como não houvesse para mim condução de regresso, continuei a viagem com os antigos companheiros e mais alguns outros, que nos esperavam em Cáceres e aí completaram a Expedição. Íamos partir, e, sendo forçada a permanência por alguns dias em Porto do Campo, embarcaram conosco, para que fosse possível fazer Roosevelt caçar, dois ou três caçadores, todos com matilhas, mas, um deles, o Sr. João Ribeiro, com uma cachorrada que entre todas sobressaia pelo número e pela qualidade, e, como tudo e todos estivéssemos prontos para partir, deixamos, Cáceres na tarde desse dia, em demanda do Sepotuba.

 

O extenso Paraguai, já de há muito correndo entre terras mais altas, estreitava-se agora sempre entre renques de mato, e era bem outro o aspecto do grande alagador de pantanais, subindo sempre, encontramo-nos, à tardinha, em uma posição interessante e pitoresca, pois que com o nosso navio estávamos ao centro de uma “perfeita cruz formada pelas águas em que navegávamos.

 

Para quem se encontrasse pela primeira vez nesse ponto do Rio, e na intenção de continuar a subi-lo, difícil seria a sua orientação, pois que, como tudo indica, o natural seria seguir para frente, tomando como afluentes os dois Rios que aí vêm desembocar de um e outro lado. Mas enganosa, quão aparentemente certa, seria tal solução, visto como a cruz é assim formada: a parte inferior, pelo trecho do Paraguai já por nós navegado, o braço direito, pelo próprio Paraguai que aí defleta em ângulo reto, a parte superior, pela entrada de uma “baía” [grande lago ou sacado]; e o braço esquerdo, pelo Sepotuba.

 

Entramos pelo Sepotuba, e logo foi a nossa primeira observação a limpidez de suas águas, e a sua forte correnteza que a custo era vencida pelo pequeno “Nyoac”, estávamos na “poaía”, como lá se diz, e que exprime estar nas regiões das matas ricas em ipecacuanha, como são as das terras que margeiam o belo Rio que agora navegávamos, correndo em asseado leito de pedras, entre margens bem altas e cobertas de forte orla de mato. A noite clara e enluarada permitia ver o soberbo panorama, e a magia do astro de luz suave, tocando como sempre almas e corações, recrudescia a saudade daqueles que de nós distavam, e fazia-nos pensar nestes que de nós distariam, dentro em breve, na ousada empresa em que não nos era dado também aventurar.

 

07.01.1914: a manhã de 7 encontrou-nos em Porto do Campo e, logo cedo e bem atracado que foi o “Nyoac”, começou a descarga de tudo quanto pertencia à Expedição, enquanto a turma de soldados, em terra e dirigida pelo infatigável Capitão Amílcar, estabelecia o primeiro abarracamento. Na tarde desse dia, partiram alguns membros americanos da Expedição, aproveitando a lancha, que subia com uma chata levando bagagens e carga para Tapirapuã; era esse o último ponto atingível por via fluvial, sobre o próprio Sepotuba, base e ponto de apoio escolhido pelo bravo Coronel Rondon, para as suas extraordinárias explorações, e donde deveriam seguir por terra, através do Sertão, Roosevelt e mais membros da Expedição, até as cabeceiras do Rio da “Dúvida”, nome que exprimia bem o ignorado de seu curso e a mágica atração que o mistério, fascinador como a esfinge, exercia sobre a alma sempre ardente e viva do antigo “cowboy”.

 

Tal como desde 17 de dezembro do ano anterior, ainda nesse dia, apesar do abarracamento, jantei ao lado de Roosevelt e com ele troquei ideias, como de costume e quase diariamente sucedia, sobre problemas sociais e políticos, e, como já nos houvesse ele dito que nós, no Brasil, havíamos resolvido problemas que ainda estavam insolúveis nos Estados Unidos.

 

Embora o inverso também fosse verdadeiro, tentei ainda uma vez sondar o espírito do experimentado estadista, no intuito de conhecer quais seriam esses problemas, e saber, principalmente, quais teriam sido as soluções dadas aos que nos restavam ainda insolúveis.

 

Ou fosse porque o Destino [que os primitivos já consideravam imutável até pelos Deuses] não permitisse, ou fosse porque o nosso hóspede não quisesse desvendar o seu pensamento, o caso é que, só a respeito do problema relativo ao perpetuamente ou desaparecimento do negro entre nós e entre os americanos foi que se expandiu o meu vizinho de mesa.

 

Condenava ele o processo norte-americano que, fazendo a completa separação de raça, só conseguia com isso desenvolvimento sempre crescente do número de negros, arredando assim a solução do problema e tornando-a cada vez mais difícil e grave, e, dizia, então, enquanto nos Estados Unidos é cada vez maior o número de negros, sucede no Brasil o fato inverso, desaparecendo a dificuldade da solução e a gravidade do problema com o desaparecimento do próprio problema, pois que, diluída no sangue branco a pequena porção de sangue negro ainda existente, dentro de um futuro não muito remoto estará a população do Brasil isenta de negros.

 

Mais tarde soube por que razão não tivera segredo para com esse problema o forte explorador; lendo os artigos por ele escritos no Outlook, lá deparei, no número de 21 de fevereiro de 1914, com um desses artigos sob o título: “Brazil and the Negro” – e que nada mais era do que o desenvolvimento dessas ideias. (CUNHA) 

 

Faço aqui um curioso adendo, repercutindo um artigo que representa bem, ainda que de certa forma hilária, a profunda admiração dos negros americanos pelo então candidato Roosevelt.

 

O Exemplo, n° 37 ‒ Porto Alegre, RS
Sexta-feira, 23.10.1904

Eleitor Apaixonado

O homem de cor, que sente seus melindres abocanhados pelo boçal preconceito que pretende implantar a superioridade das raças humanas, baseando-se na cor da epiderme, quando lhe abrem os braços fraternos, reconhecendo que a sua cor trigueira não o incompatibiliza para as funções com que seu mérito pode arcar, o seu reconhecimento vai ao fanatismo para com os que assim lhe fazem justiça.

Os descendentes de africanos não primam pela humildade, como dizia um notável político; e sim primam pela gratidão, gênero que já vai escasseando no mercado dos sentimentos afetivos da humanidade. Roosevelt, benemérito Presidente da República dos Estados Unidos da América do Norte que, convidando a sentar-se em sua mesa um célebre homem de cor, declarou guerra tenaz contra o menosprezo em que éramos tidos, ao ponto de serem linchados os que conquistavam uma mulher descorada, tem colhido dos homens de cor a flor da gratidão que desabrocha de todos os feitios de acordo com a excentricidade inata aos americanos, como se pode apreciar da local que, sob a epígrafe acima, em seguida transcrevemos das colunas da “Federação”. A próxima eleição presidencial nos Estados Unidos da América do Norte já tem provocado apostas interessantíssimas. Agora é um negro, influente político em S. Luiz, grande admirador de Roosevelt, que oferece a vida contra a módica quantia de cinco dólares. Para maior garantia da aposta, assinou este contrato:

A todos que lerem o presente, e Senhor seja convosco! Sabei que eu, Américo Prates, são de corpo e de espírito, prometi solenemente, tomando Deus por testemunha, pôr termo à minha existência, atirando-me do meio da ponte do Eads ao Mississpi, num dos sete dias seguintes ao da eleição presidencial de 1904, se Theodoro Roosevelt, candidato republicano, não for eleito.

São do corpo e do espírito… Do corpo talvez; do espírito, certamente que não, acrescenta um colega. (O EXEMPLO, N° 37)

 

Autor e Fonte: Hiram Reis e Silva

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