Porto Velho / RO - sexta-feira, 17 de maio de 2024
(69) 99967-8787

A Terceira Margem – Parte CCLXVI – Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 2ª Parte – VII Cáceres – Ilha da Amizade IV

Publicado em: 23/07/2021 - 3:03
A Terceira Margem – Parte CCLXVI – Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 2ª Parte – VII Cáceres – Ilha da Amizade IV

Expedição Centenária Roosevelt-Rondon
2ª Parte – VII

Cáceres – Ilha da Amizade IV

Relatos Pretéritos – Rio Tenente Lyra ou Sepotuba

Pereira da Cunha (Continuação)

 

CUNHA: Desde alguns dias, Kermit sofria de acessos palustres, velha infecção que adquirira no México e que o havia aborrecido e acompanhado em África, e agora, reentrando em regiões em que a palustre é endêmica, reaparecia-lhe essa maldita companheira. Esse terrível mal, sério bastante em qualquer outro, era ainda mais preocupante em Kermit, pois que o medicamento indicado e indispensável em tal caso, o quinino, não podia ser ministrado ao nosso Kermit, visto que outra moléstia isso provocaria, como já lhe tinha sucedido; e foi pensando no perigo a que estava exposto seu filho, perigo que só poderia aumentar com o internamento pelo Sertão, que, seriamente preocupado, Roosevelt revelou-me nessa noite as suas apreensões.

Há de ter notado, que falo muito de Kermit, mas ele merece, sei o que ele vale e a sua dedicação por mim, e, se tentasse qualquer esforço para fazê-lo retroceder, conheço bem quanto seria isso inútil, pois não me abandonaria, entretanto, além de ser ele meu filho muito querido, está na flor da idade, é noivo, já estaria casado se não fosse esta viagem, e seria uma calamidade transbordante de injustiça se viesse a morrer numa travessia que vamos empreender.

Pela primeira vez eu via Roosevelt ter apreensões sobre a arriscada empresa, mas eram elas todas pela sorte de seu filho e não pela sua, e, continuando, a respeito disso se pronunciava: “Tendo dedicado as minhas energias à exploração científica que encetamos, nela perderia a vida com glória, como certamente gostaria o meu amigo de perder a sua em um combate naval; acresce ainda que, mesmo tendo em conta a minha boa saúde, não posso esperar viver senão mais uns quinze anos, a minha preocupação, portanto, é toda por Kermit”.

Assim terminava a nossa conversa daquela noite, enquanto, no acampamento, eram dadas as providências para a primeira caçada de anta, a realizar-se na manhã seguinte.

Nessa manhã de 8 de janeiro, depois de sermos fotografados, das sentidas despedidas, e de ter Roosevelt, com alguns companheiros embarcado para a caçada, despedi-me dos que não tomavam parte em tal caçada, embarquei por meu turno no “Nyoac”, ecom um prolongado adeus aos que ficavam em terra, e, depois, aos que ainda vimos nas canoas, deixamos, cheios de saudades, Porto do Campo e os bons companheiros, sentindo, com amargor e tristeza, não poder compartilhar-lhes a sorte na bela e arriscada exploração através do Brasil. (CUNHA)

 

Amílcar Armando Botelho de MAGALHÃES (1942)

 

UMA PÁGINA DE SAUDADE 

1° Tenente João Salustiano Lyra

Quis um destino caprichoso, imprevisto como todos os destinos, que fosse perder a vida num pequeno Rio [Sepotuba, afluente da margem direita do Alto Paraguai] aos 03.04.1917, quando dirigia uma turma independente de Serviço Geográfico, em trabalhos de levantamento da Carta de Mato Grosso. […]

No cenário apenas quatro protagonistas, dois que pereceram e dois que se salvaram; uma corredeira impetuosa onde as águas borbulham e burburinham, espadanando sobre rochedos; em torno a floresta despovoada, silenciosa e indiferente como toda massa inerte da natureza… Nesse desvão sem glória, a mão do destino apaga facilmente uma existência gloriosa e uma juventude viril também preciosa ‒ Lyra e Botelho.

Tem muita força a fatalidade: como conceber de outra forma que dois grandes nadadores, de fortes músculos, acostumados a esforços mais violentos, fossem vencidos nessa luta?! Ainda mais quando a calma revelada pelos náufragos levouos a atirar para terra as cadernetas de levantamento, para que não se perdessem na corrente e com elas desaparecesse o resultado do trabalho até aí executado; quando espontaneamente atiram-se na água, na convicção de que tal iniciativa evitaria, como evitou, a submersão da pequena canoa [montaria] em que navegavam!

Esta, flutuou realmente, depois de colher em seu bojo boa porção de líquido, e, arrastada pela correnteza só pôde ser atracada à margem 200 metros a jusante, apesar do esforço neste sentido empregado pelo piloto.

Fora lançado na água, ao primeiro desequilíbrio da canoa, o proeiro, que nadou para a margem e nada mais viu, porque tratara apenas de se salvar. O piloto, no último olhar que lançou para a retaguarda, viu ainda os dois oficiais à tona da água; quando saltou em terra e correu margem acima ao local do sinistro, nenhum vestígio mais deles encontrou: haviam desaparecido. Aos gritos do piloto, na esperança de que os oficiais, arrastados pela velocidade das águas, pudessem ter saído mais abaixo, apenas o eco respondeu… Por terra, trilhando caminhos diferentes, a tropa diariamente vinha à beira do Rio, ao encontro da turma de levantamento, em pontos previamente determinados pelo Chefe da Expedição ‒ Tenente Lyra.E era essa justamente a última etapa a vencer, para amarrar o serviço a Tapirapuã, porto da margem esquerda do Sepotuba [hoje Rio Tenente Lyra] até onde, desde a foz, a Comissão havia já executado o levantamento desse curso de água. A última etapa correspondeu, assim, o último dia de vida dos dois distintos oficiais. (MAGALHÃES, 1942)

Deixando Cáceresdeixamos também o “Nyoac” ‒ não poderia ele ir além. Começamos a subir o Sepotuba [Tapir], que eu explorara cientificamente em 1908. Rio claro, descendo do planalto para as florestas das terras baixas, só era navegável no tempo das águas. Subimos até Porto Campo, onde pousamos a 7 de janeiro de 1914. (VIVEIROS)

Daí saímos na manhã seguinte, continuando a subir o Paraguai, em demanda do Porto do Campono Rio Sepotubaonde chegamos depois das 3 horas da tarde de 7 de janeiro. O “Nyoac” não podia ir além; desembarcamos e pela primeira vez armamos as barracas […]. Permanecemos nesse acampamento até o dia 13 não só afim de dar tempo à lancha “Anjo da Ventura”, propriedade da Casa Dulce, de Cáceres, para fazer o transporte de toda a carga e de parte do contingente de Porto do Campo para Tapirapuã, como também para completar a coleção de grandes mamíferos que o Sr. Roosevelt estava fazendo. (RONDON)

As 15 horas do dia 6 partiu o “Nyoac”, Rio Paraguai acimapenetrando em seguida pelo curso do Sepotuba […] Nesse 1° acampamento permanecemos até o dia 13, data em que às 11 horas partimos na lancha “Anjo da Ventura” e em uma chata a reboque, afim de prosseguir o acesso do Sepotuba, em demanda de Tapirapuã, onde desembarcamos às 11 horas e 30 minutos de 16 e acampamos pela segunda vez. (MAGALHÃES, 1916)

De fato, não estando no porto a lancha para conduzir a Expedição, resolveu-se que o “Nyoac” subisse mais o Paraguai e penetrasse no Sepotuba, até Porto do Campo, onde Roosevelt aguardaria a lancha, caçando antas e porcos […]. Entramos pelo Sepotuba, e logo foi a nossa primeira observação a limpidez de suas águas, e a sua forte correnteza que a custo era vencida pelo pequeno “Nyoac”, […] (CUNHA)

 

 

Autor e Fonte: Hiram Reis e Silva

Tags:

Comunicado da Redação – Em Rondônia
Site de notícias em Porto Velho, aqui você encontra as últimas notícias de nossa cidade e ainda Guajará-Mirim, Porto Velho, Candeias do Jamari, Triunfo, Nova Mamoré, Ariquemes, Jaru, Ji-Paraná, Cacoal, Rolim de Moura, Vilhena e demais municípios de Rondônia. Destaque para seção de empregos e estágios, utilidade pública, publicidade legal e ainda Eleições 2022, Web Rádio, Saúde, Amazônia. www.emrondonia.com, online desde 2008: O Fera das Notícias é Beradeiro é Daqui, anuncie conosco e tenha certeza de bons negócios.

Siga o Em Rondônia Nas Redes Sociais

Siga o Em Rondônia Nas Redes Sociais

Desenvolvido por Argo Soluções

::: PUBLICIDADE EM RONDÔNIA :::