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A Terceira Margem – Parte CCLXVII – Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 2ª Parte – VII Ilha da Amizade – Tapirapuã I

Publicado em: 26/07/2021 - 10:51
A Terceira Margem – Parte CCLXVII – Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 2ª Parte – VII Ilha da Amizade – Tapirapuã I

Expedição Centenária Roosevelt-Rondon
2ª Parte – VII

Ilha da Amizade – Tapirapuã I

A 16 de janeiro, chegávamos a Tapirapuã, Quartel General da Comissão. Carinhosa acolhida, bandeiras das Nações americanas festivamente desfraldadas. Organizaria aí a marcha por terra, através dos Sertões Paresí e Nambiquaras. Para essa marcha, mandara eu reunir uma tropa de 10 muares e 70 bois cargueiros – dos que se empregam em Mato Grosso no transporte de cargas e cangalhas […] (VIVEIROS)

 

Tropa Ponta Cortada ao Carlito de Itararé

(Luciano Rosa)

Duzentas mulas argentinas, mansas, xucras, caborteiras.

Cruzaram pela fronteira nadando pro nosso lado.

Ponta, corrida, cortada, porque as melhores vêm na frente.

Sistema de antigamente selecionando a mulada.

Tropa pronta e faturada, burro cargueiro e bruaca.

E o velho Tito Guaiaca, cozinheiro e ponteador.

Na frente, as mansas de arreio e a velha mula ruana.

Na goela, leva a campana do cincerro cantador.

De São Borja até Cruz Alta, foi quase um mês estradando.

Mais meio até Passo Fundo folgando pra descansar.

Dois dias e um pouco mais, tropa na estrada de novo.

Estirada ao novo povo, da Vacaria dos Pinhais.

Estalo, relho e assovios, do cincerro à badalada.

Planalto, picada e Rio, no rumo de Itararé.

Lages… Castro… os birivas, nestas tropeadas muleiras.

Não respeitavam fronteiras, divisa ou tempo qualquer.

Quanto maior a distância, a lembrança dobra a idade.

Mas o que dói, é a saudade do pago o rancho e a mulher. […]

 

Ilha da Amizade a Tapirapuã (25.10.2015)

Para essa marcha, mandara eu reunir uma tropa de 10 muares e 70 bois cargueiros […]

Continuávamos a descer o Rio, na lancha “Anjo da Ventura”, e os cães acompanhavam nas margens, onde a floresta tropical formava parede […]

Relatos Pretéritos – Tapirapuã

16 a 20.01.1914 

Rondon

Afinal, desarmamos as barracas no dia 13 e seguimos para Itapirapuã, perto do Sepotuba, aberto em 1908 pela Comissão das Linhas Telegráficas, para atender às necessidades do aprovisionamento dos seus trabalhos no Chapadão dos Paresí, até muito além do Rio Juruena e da Serra do Norte.

Ali chegamos pouco antes do meio dia de 16 de janeiro iniciando-se logo a preparação das cargas e das tropas que tinham de partir com a Expedição para o interior do Sertão. Foi necessário subdividir a carga de vários caixões da Comissão Americana, de modo a acondicioná-la em volumes de peso proporcionado ao esforço que se pode exigir de animais que vão ser obrigados a percorrer mais de 600 km através de campos paupérrimos de gramíneas forrageiras. Eu conseguira fazer reunir em Tapirapuã, para os serviços de transporte, 110 muares e 70 bois cargueiros.

Para organizar e expedir os vários lotes dessa tropa, com 360 volumes grandes e muitos outros, menores, de sobrecarga, foram necessários cinco dias de trabalhos incessantes. Enquanto isso, os naturalistas iam aumentando as suas coleções zoológicas, pela aquisição de novos exemplares, alguns dos quais caçados pelos Srs. Roosevelt e Kermit. Adotaram-se também medidas indicadas pela oportunidade das circunstâncias presentes, para obter o aceleramento na marcha da Expedição, desejado pelo Sr. Roosevelt. Formamos duas turmas, que deviam avançar separadamente através do Sertão, até se encontrarem de novo, na estação de José Bonifácio. A 1ª, chefiada pelo Ex-presidente, auxiliado por mim, seguiria pela estrada de abastecimento da Comissão das Linhas Telegráficas, passando por Utiariti; a segunda, sob a chefia do Capitão Ajudante Amílcar de Magalhães, tomaria caminho mais direto, pelas cabeceiras dos Rios Verde, Sacre, Papagaio, Buriti e Sauêuiná, para chegar a Juruena a tempo de prosseguir daí por diante com um avanço de, pelo menos, 24 horas sobre a primeira: deste modo, o Sr. Roosevelt não passaria pelo dissabor de ver a sua marcha detida por algum embaraço da estrada, porque, antes, o Capitão Amílcar, que se encarregara da reparação e concerto das pontes e estivados, já o teria removido. (RONDON)

Roosevelt

13.01.1914: No dia 13 levantamos acampamento, carregamos a lancha e a chata com todos os nossos objetos e nossas pessoas, e arrancamos Rio acima para Tapirapuã. Éramos ao todo 30 homens, com cinco cães, e levávamos barracas, camas e provisões; a carne fresca que cada vez menos fresca ia ficando; e as peles e tudo o mais amontoado com essas cousas. Choveu quase todo o primeiro dia e parte da primeira noite. A seguir, o tempo continuou em geral enfarruscado, agradável para viajar; algumas vezes a chuva e a soalheira tórrida se alternavam. A cozinha – aliás excelente – era feita num curioso fogãozinho ao ar livre, na popa da chata coberta. Esse fogão era formado de pedaços de cupim colocados entre os bordos da embarcação. Junto a ele o escuro cozinheiro, com filosófica solenidade, trabalhava ao Sol e à chuva com duas ou três panelas. Nossos homens, boas almas debaixo de peles de todas as cores e matizes, dormiam, na maior parte do tempo, encolhidos entre caixas, fardos e mantas de carne seca. Uma enorme tartaruga terrestre estava peada na proa da chata. Quando os homens dormiam muito próximos, ela fazia esforços inúteis para trepar sobre eles; em retribuição, alguns deles, de vez em quando, transformavam-na em assento.

Vagarosamente a máquina resfolegante ia impelindo a lancha e seu pesado reboque contra a rápida correnteza. O Rio tinha subido, e fazíamos cerca de dois quilômetros por hora. À frente, a escura faixa das águas estendia-se em curvas entre intermináveis muralhas de floresta tropical. Era como se atravessássemos uma gigantesca estufa. Coqueiros babaçu e buriti, sarãs, enormes figueiras, bambus empenachados, árvores estranhas de troncos amarelos, árvores baixas com folhas enormes, árvores altas com delicada folhagem rendilhada, árvores de troncos com escoras naturais, outras com o estipe erguendo-se esguio, liso e direito a incríveis alturas, todas entrançadas entre si por um emaranhado de trepadeiras se debruçavam à beira do Rio.

Os galhos pendiam até a água, formando uma cortina através da qual era impossível ver o barranco e excessivamente difícil atingi-lo. Raramente alguma ostentava flores – grandes cachos brancos ou de pequenas flores vermelhas ou azuis. As mais das vezes, as flores lilases das begônias trepadeiras faziam largas manchas coloridas. Inúmeras parasitas cobriam os galhos e até cresciam sobre os troncos enrugados. Vimos pouca vida alada. Alguns biguás, de vez em quando, e martins-pescadores voando de galho em galho. Com longos intervalos passávamos por alguma fazenda. Em uma delas a casa grande, coberta de telhas vermelhas e caiada, ficava numa encosta gramada, atrás de mangueiras. As folhas de madeira estavam abertas nas janelas sem vidraças e suas grandes salas eram inteiramente nuas, sem um livro, sem um enfeite. Uma palmeira, carregada dos pendentes ninhos de guaches , ficava próxima da porta.

Para o lado de trás havia laranjeiras e pés de café e perto ficavam o bananal, o arrozal e a plantação de fumo. O capataz, de tez lívida, era hospitaleiro e cortês. O mulherio trigueiro se manteve, furtivo, nos bastidores. Como a maior parte das fazendas, esta era propriedade de uma firma com escritório em Cáceres. […]

Ao fim da primeira tarde acostamos numa modesta fazenda, das mais pobres. As casas eram cobertas de folhas de palmeiras. Até as paredes eram de grandes palmas folhudas de babaçu, fincadas em pé no solo e acamadas umas sobre as outras. Alguns da comitiva saltaram em terra, outros ficaram a bordo. Não havia mosquitos, o calor não era excessivo e dormíamos bem.

14.01.1914: Pelas 05h00 da manhã seguinte cada um de nós havia bebido uma xícara do delicioso café brasileiro e as embarcações continuavam a viagem. Durante o dia todo navegamos lentamente Rio acima. Passamos por duas ou três fazendas. Paramos em uma para arranjar leite. Ali as árvores estavam recobertas de pequenas orquídeas amarelas. Ao escurecer paramos numa aberta onde não havia galhadas para impedirem que encostássemos as embarcações no barranco. Não havia quase mosquitos. A maior parte do pessoal levou as redes para terra e o acampamento foi armado nos arredores singularmente belos. As árvores eram palmeiras babaçu, algumas com suas folhas coroando altos troncos; outras havia com palmas mais longas, que subiam quase do solo. Estas folhas eram de grande comprimento, algumas de não menos de 13 ou 14 metros. Arbustos e capim alto, cobertos de orvalho e brilhando com o verde das esmeraldas, cresciam nos espaços abertos. (ROOSEVELT) (Continua…)

 

 

Autor e Fonte: Hiram Reis e Silva

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