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A Terceira Margem – Parte CCXX – Navegando o Tapajós ‒ Parte XXIV – Redescobrindo o Berço da Humanidade

Publicado em: 20/05/2021 - 3:16
A Terceira Margem – Parte CCXX – Navegando o Tapajós ‒ Parte XXIV – Redescobrindo o Berço da Humanidade

Navegando o Tapajós ‒ Parte XXIV

Redescobrindo o Berço da Humanidade

História da Companhia de Jesus

(Padre Serafim Leite)

É notável, em particular, a sagacidade e instruções que dá para a agricultura amazônica, hoje ultrapassadas, mas verdadeiro tratado de economia agrícola, bem
superior às ideias do seu tempo; refere-se já à
indústria hidráulica aplicada, utilização dos ventos;
sobre os Índios e crendices populares [os homens marinhos] e sobre a etnografia de inúmeras tribos, tatuagem,
relações sociais, culto indígena e ciumeira dos maridos, variadas notícias, produto de inigualável observação,
direta e amena. Além disto, indicações locais,
geográficas e históricas, que, ao menos no
tocante aos fatos de seu tempo, se constituem
genuínas fontes para a história geral do grande Rio.
João Daniel enquadra-se no grupo admirável de escritores que deixaram o seu nome ligado à história do Amazonas. (LEITE)
A partir da virada do século, tive a oportunidade de ler inúmeras citações de vários pesquisadores sobre interessantes trechos do “Tesouro Descoberto no Máximo Rio Amazonas”, de autoria do Padre João Daniel. Em 2004, visivelmente fascinado com tudo o que lera até então, adquiri a obra editada pela Livraria Contraponto e fiquei mais extasiado ainda com a riqueza de detalhes desta verdadeira Enciclopédia Amazônica considerada, por muitos, como a “Bíblia Ecológica da Amazônia”.

Fonte: César Benjamin (Editora Contraponto)

A versão manuscrita do Tesouro Descoberto tem 766 páginas. Desde 1810 as cinco primeiras partes, de um total de seis, estão depositados nos acervos da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, para onde foram trazidas, em 1808, por Dom João VI, preocupado em evitar a captura do precioso texto pelos exércitos de Napoleão Bonaparte que avançavam sobre Portugal. A sexta parte, dividida em duas, foi perdida e depois reencontrada na Biblioteca de Évora. Somente em 1976 a Biblioteca Nacional estabeleceu a versão completa e definitiva do manuscrito, inclusive com a parte depositada em Évora, recebida em microfilme.

Padre João Daniel

Eu gemendo e chorando opresso com o peso da minha cruz, submergido, e enterrado vivo no funesto sepulcro, e subterrânea cova da minha prisão vou pedindo a Deus piedade, e misericórdia: e que com a sua se digne santificar a minha cruz. (DANIEL)

 

 

Relatos Pretéritos

 

Henri Coudreau (1895)

Um dia, diz a lenda Mundurucu, os homens apareceram sobre a terra. Ora, os primeiros homens que os animais das florestas viram por entre as selvas e as savanas foram os que fundaram a Maloca de Acupari. Certo dia, entre os homens da Maloca de Acupari, surgiu Caru-Sacaebê, o Grande Ser. […]

Em seguida, olhando para as plumas que plantara em redor da Aldeia, ergueu a mão de um horizonte ao outro. A este apelo, moveram-se as montanhas, e o terreno onde se localizava a antiga Maloca tornouse uma enorme caverna. […] Aí, como Pompeu, bateu com o pé no chão. Uma larga fenda se abriu. O velho Caru dela tirou um casal de todas as raças: um de Mundurucu, um de Índios [porque os Mundurucu não pertencem à mesma raça que os Índios, mas são de uma essência superior], um casal de brancos e um de negros. (COUDREAU)

 

João Daniel (1758-1776)

 

VOLUME I – PARTE PRIMEIRA

CAPÍTULO 10°

DE ALGUMAS COISAS NOTÁVEIS DO AMAZONAS

[…] Entre os mais Rios e Ribeiras que recolhe o Tapajós é um o Rio Cupari, a pouca mais distância de três dias e meio de viagem da banda de Leste no alegre sítio chamado Santa Cruz; é célebre este Rio, mais que pelas suas riquezas, de muito cravo, por uma grande lapa feita, e talhada por modo de uma grande “Igreja”, ou “Templo”, que bem mostra foi obra de arte, ou prodígio da natureza.

É grande de cento e tantos palmos no comprimento; e todas as mais medidas de largura e altura são proporcionadas segundo as regras da arte, como informou um missionário jesuíta, dos que missionavam no Rio Tapajós, que teve a curiosidade de lhe mandar tomar bem as medidas. Tem seu portal, corpo de “Igreja”, Capela-mor com seu arco; e de cada parte do arco, uma grande pedra por modo de dois Altares colaterais, como hoje se costuma em muitas Igrejas; dentro do arco e Capela-mor, tem uma porta para um lado, para serventia da sacristia. O missionário que aí quiser fundar missão já tem bom adjutório na Igreja, e não o desmerece o lugar, que é muito alegre. […] (DANIEL)

…………………………………………………

CAPÍTULO 11° 

PROSSEGUE-SE A MESMA MATÉRIA DAS COISAS NOTÁVEIS DO AMAZONAS 

Junto à catadupa do Rio Tapajós, acima da sua Foz, pouco mais de cinco dias de viagem, está uma fábrica, a que os portugueses chamam “Convento”, por ter o feitio dele. Consiste este em um comprido corredor com seus cubículos por banda, e com suas janelas conventuais em cada ponta do corredor. É “Fábrica”, segundo me parece das poucas notícias que dão os Índios brutais em cujas terras estão, de pedra e cal, e conforme a sua muita antiguidade, mostra ser feito por mãos de bons mestres. É todo de abóbada, e muito proporcionado nas suas medidas, e não é feito, ou cavado em rochedo por modo de lapa, ou concavidade, como são os templos supra, mas obra levantada sobre a terra.

Alguns duvidam se toda a “Fábrica” conste de uma só pedra, porque não se lhe veem as junturas: famoso calhau se assim é e, na verdade, só sendo um inteiro calhau parece podia durar tanto, pois segundo o ditame da razão se infere que ou é obra antes do universal dilúvio, ou ao menos dos primeiros povoadores da América que, por tão antigos, ainda se não sabe decerto donde foram, e donde procedem. A tradição, ou fábula, que de pais a filhos corre nos Índios, é que ali moraram, e viveram nossos primeiros pais, de quem todos descendem, brancos e Índios; porém que os Índios descendem dos que se serviam pela porta, que corresponde às suas Aldeias, e que por isso saíram diferentes na cor aos brancos, que descendem dos que tinham saído pela porta correspondente à Foz, ou Boca do Rio […] (DANIEL)

 

Georreferenciando o Berço da Humanidade
(04°09’32,8” S / 55°25’ O)

Berço da Humanidade

Estalactites e Estalagmites

Autor e Fonte: Hiram Reis e Silva

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