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Uma representante feminina de Rondônia na Força Aérea Brasileira

Publicado em: 18/12/2021 - 7:52
Uma representante feminina de Rondônia na Força Aérea Brasileira

Caros leitores, desde muito tempo sabemos que de todos os fatos do passado é tarefa do historiador selecionar aqueles que farão parte da História e aqueles que cairão no esquecimento. Antes de continuar devo esclarecer dois pontos, com o intuito de sanar a controvérsia que a primeira frase do presente artigo possa suscitar. O primeiro é que o historiador não realiza a seleção dos fatos, que julga principais, e não deixa de lado os demais a partir de um capricho de sua escolha, de determinada inclinação para essa ou aquela dimensão da vida. Em outras palavras, a escolha do historiador não é guiada por predisposições de sua individualidade, ao contrário, é socialmente orientada. É a pauta política ou social predominante naquele momento que orienta a escolha dos temas, dos problemas de pesquisa, das hipóteses de trabalho, do paradigma e, finalmente, dos “fatos” com os quais vai trabalhar. Há então uma interação dialética entre essas escolhas, de modo que os fatos são constituídos a priori, e a posteriori, pois conduzem sua própria constituição através das operações intelectuais de seu selecionador. Isso porque, o fato nunca é matéria bruta, mas constitui-se a partir de determinada teoria. Em segundo lugar, o que acontecerá com os fatos desprezados? Ficarão esquecidos eternamente como não relevantes para a História? A resposta é: não necessariamente. Como a História é reescrita indefinidamente, há sempre a possibilidade de resgatar fatos anteriormente desprezados quando se revelarem importantes para o estudo de novos objetos ou dimensões analíticas.

Um bom exemplo disso é a questão do papel da mulher na História. Absolutamente desprezado nos séculos anteriores ao XX, a pouca atenção dada a mulher pela História revelava um estado de desigualdade em relação ao homem da participação feminina nos eventos sociais. À mulher pertencia a esfera privada da família, enquanto ao homem a esfera pública, para onde convergem as atenções quando se trata de conformar os principais fatos da História. É claro que existiram mulheres notáveis ao longo da História: governantes (Cleópatra, Vitória, Catarina), cientistas (Curie) e até mesmo militares (Maria Quitéria), mas eram exceções. É quando a mulher passa a cotidianamente dividir as responsabilidades da esfera pública com o homem que se torna objeto coletivo da História, tanto para diminuir os laços de subalternidade quanto para explicar uma série de fenômenos nos quais se ausentava o feminino.

Assim, dados os objetos centrais de minha atenção como historiador, tenho falado de pessoas e fatos que fizeram a História de Rondônia, em geral pessoas do sexo masculino e que já passaram da idade madura ou já faleceram. Ocorre que o tempo da História não é somente o passado. Na verdade o objeto da História não é o passado, como muitos equivocadamente pensam, o objeto da História é o homem em sociedade no tempo. Destarte, tomar uma cidadã contemporânea jovem e descrever um aspecto da sua ainda curta História de Vida, revela muito do passado, de como se operaram transformações e de como elas se manifestam no presente. Se é fato que a História não nos permite prever o futuro, é fato também que permite vislumbrar suas possíveis paisagens. De que tratamos aqui? Tratamos de uma jovem mulher, que desde muito tenra idade viveu em um pequeno e novo estado da Federação, cuja família não era rica. Mas tratamos também de como evoluiu a participação da mulher na sociedade. Apesar dessas aparente dificuldades, esta jovem conseguiu superar suas condições de vida e penetrar uma área da atividade militar, que até poucas décadas atrás era exclusivamente masculina.

Falo aqui de uma pessoa que, com sua trajetória de vida fez brilhar Rondônia, pois o fulgor de um estado é reflexo do brilho de seus cidadãos. O testemunho que aqui presto, tem como objetivo incentivar a todos os jovens a lutar por seus sonhos e ideais. A perceberem que não importa onde você nasce, onde você é educado, mas, se souberem valorizar os bons ensinamentos adquiridos dentro do lar, da escola e da sociedade serão bem sucedidos. Meu testemunho é sobre uma moça que, como tantos de nossos jovens, chegou bebê ainda em Rondônia e aqui se educou, reconhecendo essa terra como sua. Não estudou nas excelentes, e dispendiosas, escolas particulares disponíveis aos filhos dos mais abastados. Foi aluna das escolas Marcelo Cândia e o Colégio Tiradentes.

Tendo ficado órfã aos dois anos de idade, com o falecimento sua mãe Carmen Lucia Spirlandeli, sua família nuclear ficou reduzida ao pai Washington Nunes da Silva, que quando conheci há mais de vinte anos exercia a profissão de serralheiro, no conjunto 4 de Janeiro, e a sua irmã Hitala.

A família nuclear completa
Falo hoje de uma pessoa que, apesar da adversidade dos anos iniciais e do socialmente modesto nascimento nasceu rica, porque teve um pai que soube orientá-la, apesar da falta do concurso da esposa, e não abdicou desse dever. Falo de Hingrid Spirlandeli Nunes da Silva, que saindo de Rondônia cursou a Academia da Força Aérea Brasileira (AFA) em Pirassununga. Tendo iniciados seus estudos na AFA em 25/01/2010, pela mesma instituição concluiu os cursos de Bacharel em Administração e em Ciências Aeronáuticas (2013). Nos anos seguintes serviu em Natal (2014), Florianópolis (2015/2016) e Canoas (2017/2018). Nesse período atuou na Aviação de Patrulha e Busca Marítimas da Força Aérea Brasileira de 2015 a 2018 e como chefe da Seção Administrativa do Esquadrão Phoenix da Força Aérea Brasileira em 2017 e 2018.

Foi a primeira moça da região norte a pilotar os aviões da Força Aérea Brasileira. Mas não parou por aí, especializou-se em Análise do Ambiente Eletromagnético (2018) pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), em Ribeirão Preto, prestigiosa instituição militar de ensino e pesquisa. Na mesma instituição cursou o metrado em Guerra Eletrônica e Sensoriamento Remoto entre os anos de 2019 e 2021. Mas, sua atividade profissional não a impediu de viver outras dimensões da vida, casou-se com Denys Soares com quem teve dois filhos Anna e Matteo.

Centro de Lançamento de Alcântara, Maranhão – Gente de Opinião
Centro de Lançamento de Alcântara, Maranhão
Hoje, quando vermos nossas aeronaves militares cruzarem os céus de Rondônia em datas como a comemoração ao Sete de Setembro, lembremo-nos que em algum lugar do Brasil uma moça, conterrânea nossa poderá ser a única da região Norte a estar pilotando uma dessas aeronaves. Esperamos que esse monopólio já se tenha rompido, ou vá se quebrar em breve, mas o papel de “destemida pioneira”, nunca perderá. Quem sabe, no futuro, a sorte lhe caberá o retorno a Rondônia, para comandar alguma unidade militar. Quem sabe, no futuro, teremos a primeira Brigadeiro do Ar (ou Brigadeira) com raiz em Rondônia.

Eis então, os exemplos valem mais que as palavras. Nesse país tão difícil há ainda espaço para realizações. Lutem, e quanto mais modestos forem vossos recursos maior será vossa luta, mas também a vitória será mais exultante. Sigam o exemplo dessa jovem lutadora. Mas não nos esqueçamos que o Brasil se constrói, principalmente, pelo esforço dos pais e mães em ocasionarem melhores condições de vida a seus filhos. Então, se a fortuna vos reservou o empenho de pais dedicados, aproveitem, porque sem eles o fardo fica mais pesado. Que o progresso se dá pela pela luta de cada geração. É então que, para finalizar, devo dizer que embora essas palavras pareçam apenas uma homenagem à nossa oficial aviadora são, sobretudo, uma homenagem ao seu dedicado e orgulhoso pai, cuja luta para educar sozinho as filhas acompanhei de longe.

Autor: Dante Ribeiro da Fonseca

Comunicado da Redação – Em Rondônia
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