Porto Velho / RO - quinta-feira, 2 de maio de 2024
(69) 99967-8787

Pesquisa amplia área de ocorrência de botos na Amazônia com novos registros

Publicado em: 02/08/2021 - 2:31
Pesquisa amplia área de ocorrência de botos na Amazônia com novos registros

Uma das figuras mais carismáticas da fauna amazônica vive debaixo da água doce dos rios, os botos. Apesar de não serem bichos pequenos – o boto-cor-de-rosa, por exemplo, mede cerca de 2,5 metros – nem particularmente discretos por onde passam, ainda existem lacunas importantes sobre a ocorrência e ecologia dos botos na bacia amazônica.

Após um esforço de 12 anos de levantamento de dados, através de idas a campo e pesquisa bibliográfica, e também com uma contribuição essencial de depoimentos de ribeirinhos e comunitários, pesquisadores conseguiram trazer novas peças para este quebra-cabeça, com a comprovação de novas populações de três espécies de botos do estado do Amapá.

O estudo foi conduzido por cinco pesquisadores em uma parceria entre WWF-Brasil, Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA) e foi publicado no dia 12 de julho no periódico científico Aquatic Mammals, especializado em mamíferos marinhos.

O trabalho dos pesquisadores mapeou a existência de botos-cor-de-rosa (Inia geoffrensis), tucuxis (Sotalia fluviatilis) e botos-cinza (Sotalia guianensis) ao longo de uma extensão de 4.224 quilômetros de rios no Amapá, em uma região onde não havia confirmação sobre a existência desses animais.

Dentre as descobertas, uma foi particularmente intrigante: a presença de botos no rio Cassiporé, um curso d’água isolado no extremo norte do estado, sem conexão continental com outros rios, e deixou os cientistas com a pergunta “como eles chegaram lá?”. “Acreditamos que em épocas de grande vazão do rio Amazonas tenha sido possível uma migração destes animais por uma região próxima à costa onde, durante esses períodos, forte fluxo de água doce forma a pluma do rio Amazonas”, aponta Marcelo Oliveira, especialista em conservação do WWF Brasil e um dos autores do estudo.

A região amazônia mantém a maior população conhecida de botos do mundo, a maior parte deles no Brasil, e Oliveira explica que as estimativas populacionais, estudos ecológicos e genéticos de diversas regiões da Amazônia são ferramentas essenciais para orientar as estratégias de conservação, manejo e desenvolvimento sustentável especialmente frente ao momento de expansão que vive o estado do Amapá.

“A descoberta da existência da espécie em uma área muito maior do que se esperava reforça que ainda há muito a se descobrir sobre a Amazônia. O conhecimento da distribuição geográfica das espécies é fundamental para responder a muitas questões ecológicas e sustenta o manejo de conservação eficaz”, afirma o pesquisador da WWF.

Outras incógnitas permanecem a ser reveladas sobre a ecologia destas populações. “Ainda precisamos entender como é a relação desses animais com o mangue e se eles seguem migrando para outros rios pelo mar”, afirma Miriam Marmontel, líder do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá e uma das autoras do estudo.

Apesar da informação sobre a ocorrência dos botos no Amapá ser nova para a ciência, os moradores da região já sabiam da existência dos animais. “O conhecimento dos povos tradicionais é um dos pontos que utilizamos neste projeto e os relatos apontados por eles quase sempre se confirmam no campo. Tudo é novo, pois não havia nada publicado sobre estes animais naquela região; estamos escrevendo a história dos mamíferos aquáticos do Amapá agora”,continua Marmontel.

De acordo com o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (2018), levantamento realizado pelo ICMBio, duas espécies de boto mapeadas pelo estudo estão sob algum grau de ameaça. A mais preocupante é o boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis), considerada Em Perigo, seguida pelo boto-cinza (S. guianensis), classificada como Vulnerável. O tucuxi (S. fluviatilis) é o único que está mais distante do perigo, mas ainda assim sob o status de Quase Ameaçada.

Na região central do Amapá, na bacia do rio Araguari, a construção de três hidrelétricas, entre outros fatores, isolou populações e mudou a vazão do rio, com o fim da pororoca, fenômeno natural movido pelas marés que ocorre no encontro entre rio e mar, com a formação de grandes ondas. Presos entre as barragens, os grupos de botos-cor-de-rosa identificados ali devem desaparecer com o tempo.

“Tudo que fazemos gera impacto para a natureza em geral. E temos influenciado os botos diretamente, especialmente ao construir essas grandes estruturas, barragens, pois impedem o acesso deles e mudam a dinâmica dos rios na região. E não sabemos como isso afeta a capacidade de sobrevivência de longo prazo dos botos”, explica a pesquisadora do Instituto Mamirauá.

Outras ameaças às espécies é o cultivo de búfalos na região, que alteram a paisagem hidrológica da região com o pisoteamento de diversas áreas, e o garimpo e o acúmulo de metais pesados, como o mercúrio, nos botos. “O mercúrio é um metal que vai se acumulando na cadeia alimentar e se concentra nos botos por serem animais topo de cadeia. Não há clareza de como isso pode prejudicar a vida deles e precisaremos entender isso o quanto antes. Nos homens, este metal afeta a capacidade neurológica e é a causa de várias outras doenças”, comenta Marmontel.

“O Amapá é considerado a nova fronteira econômica da Amazônia, notadamente devido à expansão agrícola, instalação de barragens, e à extração potencial de óleo e gás natural. Essas e outras atividades, como a pecuária extensiva de búfalos e o garimpo, que vêm ocorrendo desde o século 19 no estado, afetam negativamente o ambiente e impactam habitats aquáticos essenciais para mamíferos aquáticos”, apontam os pesquisadores no artigo.

“Apesar da grande pressão e ameaças que existem na região, ainda há tempo para entendermos os impactos e o que podemos fazer não só para garantir um desenvolvimento sustentável para a região como também para que possamos proteger estas espécies e os rios da Amazônia”, acredita o pesquisador da WWF, Marcelo Oliveira.

 

Fonte: Diário da Amazônia

Tags:

Comunicado da Redação – Em Rondônia
Site de notícias em Porto Velho, aqui você encontra as últimas notícias de nossa cidade e ainda Guajará-Mirim, Porto Velho, Candeias do Jamari, Triunfo, Nova Mamoré, Ariquemes, Jaru, Ji-Paraná, Cacoal, Rolim de Moura, Vilhena e demais municípios de Rondônia. Destaque para seção de empregos e estágios, utilidade pública, publicidade legal e ainda Eleições 2022, Web Rádio, Saúde, Amazônia. www.emrondonia.com, online desde 2008: O Fera das Notícias é Beradeiro é Daqui, anuncie conosco e tenha certeza de bons negócios.

Siga o Em Rondônia Nas Redes Sociais

Siga o Em Rondônia Nas Redes Sociais

Desenvolvido por Argo Soluções

::: PUBLICIDADE EM RONDÔNIA :::